Diretor: 
João Pega
Periodicidade: 
Diária

Património no concelho de Mealhada


tags: Maria Alegria Marques Categorias: Opinião quarta, 16 outubro 2019

O século XVIII mostrou-se muito generoso em construções pias ou em questões por elas suscitadas nas terras do actual concelho de Mealhada, como já temos observado. Mais podemos acrescentar, agora incidindo na sua parte Sul, isto é, na área da actual freguesia de Barcouço, que essa afirmação tem, nela, um pleno sentido, não só pela quantidade desse tipo de instituições, mas também pelo número de capelas particulares, sinal indelével da existência de gente de condição social capaz de fundar (e manter) uma capela, como, também, da expressão individual de devoções muito específicas. Diga-se, ainda, que, a par de Ventosa, esta freguesia é o espaço onde se encontram mais capelas dessa natureza particular, característica, hoje, completamente olvidada, não só pelo tempo, mas também pelas circunstâncias.

            O Século das Luzes abria, em Barcouço, com um mapa eclesiástico pontilhado de 8 capelas. Delas, 4 eram de administração do povo, a saber, a do Santíssimo Sacramento, no lugar; do Arcanjo São Miguel, também no lugar; São Simão, em Cavaleiros, e a capela de Nossa Senhora da Conceição, no lugar da Ferraria. As restantes 4 eram pertença de gente diversa, por vezes, até de fora da terra, mas significando sempre a sua permanência aí, mais ou menos longa ou fugaz. Eram elas: a capela de Nossa Senhora da Assunção, no lugar dos Adões, a qual instituiu António Fernandes Monteiro, do mesmo lugar; a capela de Nossa Senhora da Conceição, sita no lugar da Quinta Branca, que se dizia ter sido instituída por Fernando Luís de Castelo Branco; a capela de São João Baptista, da Azenha da Rata, que fora instituída pelo Licenciado Simão Nogueira, que a fizera construir no ano de 1602, a qual dotara com bens, entre eles, umas casas, junto à mesma ermida, para, numa delas, se dar agasalho aos peregrinos, entretanto arruinadas; por fim, a capela de Nossa Senhora da Assunção, sita na Quinta da Boavista, instituída pelo Doutor Francisco de Figueiredo Pereira, morador que foi na mesma Quinta, pelo ano de 1698. Apenas a capela da Azenha da Rata e a da Quinta da Boavista tinham elementos arquitectónicos e escultóricos dignos de nota; tudo o mais era corrente.

            Significa isto, também que, entretanto, mas ainda no século XVIII, novas capelas surgiram no espaço desta freguesia: a capela de São Mateus, no Pisão, pertença do povo; a de Nossa Senhora de Nazaré, em Adões, instituída por um morador local, Manuel Francisco Ramalhete, e a de São José, em Rio Covo, nascida da vontade e esforços do P. Teodoro Amorim dos Reis, prior de Barcouço por meados e segunda metade do século XVIII.

            O processo da capela de São José, em Rio Covo, é bem interessante. Em 1748, o pároco local, P. Teodoro Amorim dos Reis, doou a sua quinta de Rio Covo, com casas, lagar de vinho e azenha de moer, vinhas, terras, pomares, olivais, árvores de fruto, para nela se construir a capela, para facilitar a vida espiritual dos seus paroquianos: o lugar era afastado da igreja, havia que passar uma vala de água, acto que se complicava na invernia, dificultando a deslocação das gentes. A doação era valiosa, a obra fez-se rapidamente, pois em 1749 já se alcançava licença para a bênção da capela. Estava bem construída, bem apetrechada de alfaias e ornamentos; tinha as suas imagens, um Santo Cristo e um São José, ambas de cerca de dois palmos e meio, perfeitas. Voltaremos a estas imagens.

            Por sua vez, a capela de Grada havia de nascer na segunda metade desse mesmo século (1772), por vontade do povo do lugar, que a construiu e dotou de alfaias, ornamentos e bens para a sua fábrica. O seu processo é interessante, pela indicação do nome dos moradores do lugar.