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Legislativas 2019


tags: Mauro Tomaz Categorias: Opinião quarta, 16 outubro 2019

Os Portugueses decidiram e está decidido: o PS venceu as eleições e agora o momento é de reflexão geral sobre os resultados. Costa não ficou muito longe de uma maioria absoluta, mas pode contar com uma forte presença dos seus deputados na Assembleia da República, onde terá pelo menos 106 dos 230 lugares. Terá, individualmente, mais representação do que toda a direita, o que tem o seu significado. Os resultados, no geral, foram mais ou menos os que previ (e os que as sondagens iam gradualmente desvendando...), mas mesmo assim houve espaço para algumas surpresas, nomeadamente o aumento expressivo da votação nos partidos geralmente considerados como mais pequenos, que conseguiram mesmo eleger três deputados, de três forças distintas. O Chega, o Iniciativa Liberal e o Livre terão representação parlamentar, e creio que essa realidade será uma desejável lufada de ar fresco numa câmara que acredito que irá beneficiar de uma maior heterogeneidade na sua composição, pese embora algum alarme provocado pela eleição de um deputado de extrema-direita, declaradamente anti-sistema, que inclusivamente assume desde já o desejo de tornar o Chega no maior partido nacional, dentro de um prazo de oito anos. A AR contará com o maior número de partidos representados de que há memória, e creio que essa variedade será bastante positiva para a diversificação de posicionamentos no respectivo debate político, habituado a uma bipolarização quase crónica. 

 

O PS é obviamente o grande vencedor da noite eleitoral, ninguém terá dúvidas disso, mas uma leitura mais fria dos números mostra que não há razões para qualquer tipo de furor, ou celebrações mais efusivas. Trata-se de uma vitória clara e bastante robusta, mas não deixa de ser verdade que, apesar de ter ganho em 15 dos 18 círculos eleitorais, alcançou apenas mais 120 mil votos do que em 2015. Analisadas as diferentes circunstâncias políticas, facilmente se conclui que António Costa conseguiu um bom resultado, longe de brilhante. Talvez tenham sido as manchas da última legislatura a refrear os ânimos dos eleitores, principalmente a polémica dos familiares (que eu, como socialista, não me inibo de qualificar de vergonhosa). Podia ter corrido bastante melhor, mas o resultado final vai de encontro ao que antecipei, e acima de tudo é o que melhor me parece zelar pelo superior interesse nacional: um PS muito forte e dominante, mas sem a maioria absoluta que, já dizia Costa na campanha, “não é do agrado dos Portugueses”. Tanto não era como acabou mesmo por não ser. O momento é de satisfação, não há outra palavra para o definir, mas espero que se tenha aprendido com os erros cometidos, que não foram assim tão poucos. A trajectória político-económica será para manter, como se espera (até a Moody´s deu os parabéns a Costa pela vitória, afirmando que esta é positiva para o rating de Portugal). A verdade é que estamos no caminho certo. Em Viseu, o PS reequilibrou a balança com o PSD, crónico vencedor do distrito, havendo agora quatro deputados para cada lado. João Azevedo foi um fortíssimo cabeça de lista e auguro-lhe pessoalmente um grande futuro político (já neste Governo?), pelo que terá razões para celebrar o excelente resultado que alcançou... recordando palavras suas, “é relativamente fácil ser socialista em Coimbra ou em Aveiro, mas em Viseu o desafio é outro”. Superou-o com distinção!

 

No meu Concelho, em Mortágua, há alguns dados importantes para reflectir, fazendo uma leitura dos resultados eleitorais. A abstenção foi superior em quatro pontos percentuais relativamente ao valor nacional, que já de si é bastante mau, o que nos mostra que algo continua a falhar na ligação entre a classe política local e os Mortaguenses, cada vez mais desinteressados e alheados de quem nos governa. Acredito que esse desinteresse e esse alheamento surja precisamente da já crónica falta de informação que lhes é providenciada, e que tem sido recorrente, parecendo que estes são importantes apenas de quatro em quatro anos, quando é para votar para as eleições autárquicas. Falando apenas do PS, que é o meu partido, não me recordo de uma única reunião, um encontro, ou de uma simples sessão de esclarecimento que tenha sido promovida em Maio, por altura das Europeias. Neste último mês, a história repetiu-se. Isto não pode acontecer. Nas Legislativas do meu tempo, percorriam-se alegremente as aldeias todas de uma ponta à outra, em caravana, com música, autocolantes, cartazes, um sorriso na cara e uma mensagem a passar... acima de tudo o resto, falava-se (mesmo) com as pessoas. Agora isso parece ser o que menos importa. Em breve, farei uma análise mais aprofundada ao actual funcionamento da Concelhia e à actuação do seu líder.