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PAMPILHOSA – O CAMINHO DE FERRO na Literatura Portuguesa, após a sua introdução em Portugal


tags: Pampilhosa, Alice Godinho Rodrigues Categorias: Opinião quarta, 30 outubro 2019

De acordo com o texto apresentado em destaque no Jornal da Mealhada (16/10/2019) intitulado – Deputados da Mealhada querem Parlamento a olhar para a Ferrovia, não podemos deixar de nos referir aos diversos aspetos em que a Literatura Portuguesa se nos apresenta dando-nos elementos necessários para o conhecimento da estação da Pampilhosa (sécs. XIX e XX).

A inauguração do Caminho de Ferro em Portugal – em Outubro de 1856, constituiu um acontecimento de tal maneira importante para a vida económica, social e humana do país que não pode deixar de ter tido repercussão na Literatura Portuguesa da época.

Começamos com a obra “Seca e Meca” do autor Lino de Assunção, jornalista e escritor, natural de Lisboa que chegou a ser Director dos Caminhos de Ferro (Rio – São Paulo – Brasil).

Referindo-se a uma primeira viagem para o Porto, apresenta um pequeno texto alusivo à Pampilhosa, Aveiro e Bairrada:

“Na Pampilhosa come-se à pressa um pão que embuxa, carne que resiste, vinho que trava e ala para as regiões das terras alagadiças, cortadas por mil canais estreitos, em que navegam chatas com as velas em forma de pendão. Perde-se a vista nessas planícies húmidas e verdes e sentem-se arrepios febris só em pensar que se podia ser condenado a viver naqueles pântanos onde domina a terçã, a quartã e todas as febres intermitentes… na estação de Aveiro, compram-se barrilinhos de mexilhões e escabeche e de ex-ovos-moles… mais alguns quilómetros e eis-nos à entrada da zona do b pelo v, vício regional que qualquer filósofo à procura de originalidade está a classificar o dialecto…da Bairrada “.

Brito Camacho, ao seguir para a Figueira diz: “Pampilhosa, … O rápido de Madrid entra na gare de Santa Comba Dão e à tabela parte com destino à Pampilhosa. Na carruagem mista que vem de Espanha vem um único passageiro. O Dão, como o Alba ambos tributários do Mondego é rio de poucas águas, e esta ponte que o atravessa a grande altura, dando passagem aos comboios, bem merecia que lá em baixo, largo e fundo, um rio passasse em todas as épocas do ano a ser navegável, não afluente de outro rio, mas indo directamente perder-se no Oceano.

Aproveito o tempo, na Pampilhosa, para jantar, esperando o rápido do Porto e depois do jantar entretenho-me a ver os romeiros que regressam das festas de São João na Figueira.”

Termino com Fialho de Almeida, primeiro médico do Caminho de Ferro da Pampilhosa, que fora nomeado para o Lazareto existente afim de fazer o registo de todos os doentes vindos de Espanha devido a uma epidemia que grassava por essas bandas.

No “País das Uvas” apresenta o conto “O Filho”, passado em Pampilhosa, onde uma velha mãe vai esperar o filho que, vindo do Brasil, devia chegar no comboio de Lisboa. Dá-nos uma descrição admiravelmente realista e perfeita da estação da Pampilhosa com todo o movimento, alarido e a confusão da hora em que se juntam os principais comboios.

Não desenvolvo demais a estadia de Fialho de Almeida na Pampilhosa, dado que vai sair brevemente uma edição de um livro sobre o escritor, onde serão referidos todos os momentos da sua existência nesta Vila.