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O CAMINHO DE FERRO EM PORTUGAL -Linha da Beira Alta- A estação da Pampilhosa


tags: Alice Godinho Rodrigues Categorias: Opinião quarta, 13 novembro 2019

Em 12 de Janeiro de 1882 o Conimbricense refere que na Pampilhosa sobre a linha do Norte iria passar o primeiro comboio rumo à Figueira da Foz, composto por uma máquina e vinte vagões com o material necessário para a construção do trabalho de assentamento da via.

Grandes problemas surgiram entre a população da Pampilhosa para esta construção. Manuel Gomes Carrana apresenta uma reclamação à Câmara da Mealhada pelo facto de os operários da respetiva linha lhe roubarem as uvas, tendo por isso de começar mais cedo a sua vindima.

A via férrea da Pampilhosa à Figueira da Foz era, no entanto, de fácil construção. A sua dificuldade surgiu sobretudo a partir da Pampilhosa até Vilar Formoso. Os terrenos a partir do rio Dão são xistos duros ou medianamente duros, mas facilmente desagregáveis sob a ação dos agentes atmosféricos.

De Pampilhosa até ao Luso e daí até ao Dão predomina o grés. Nos vinte e nove quilómetros seguintes temos o xisto e na parte final o granito.

Foram muitas as expropriações de terrenos pampilhosenses para a construção da linha. Damos apenas alguns exemplos de terras existentes na Ribeira, parte baixa da Pampilhosa, pertencentes a: Manuel Cristina, Bernardo Simões de Almeida, António Lindo, José do Cardal, José da Helena e outros.

A maior parte das obras da linha da Beira Alta devem-se ao engenheiro francês Gérard Eiffel. A seu lado trabalhavam os engenheiros Duparchy, Dauderni, Pierre Vimont, Louis Delpech e Louis Prathiel. Este último, muito estimado na Pampilhosa, aí faleceu em 21 de março de 1919. Colaboraram estes engenheiros na construção de diversas pontes: Ponte do Canedo, Ponte das Várzeas, Túnel de Trezói, Túnel Grande do Salgueiral e Túnel de Monte Lobos.

Inicialmente, a estação da Pampilhosa, personificação do Caminho de Ferro, tinha a forma de um rectângulo de 4 metros de comprimento e 10 metros de largura. Compreendia um armazém de mercadorias, uma cocheira para carruagens, outra para locomotivas e todos os acessórios indispensáveis ao serviço do material e de tracção. Em redor dos edifícios havia cais para passageiros e cais cobertos para mercadorias. Possuía a estação um buffet e um restaurante a cargo de um pasteleiro suíço, Paul Bergamin, que após a inauguração da linha da Beira Alta se fixara definitivamente na Pampilhosa, construindo um chalet (chalet suíço) que funcionava como hotel, servindo de apoio à estação. Possuía este um grande jardim, tratado pelos jardineiros da Póvoa do Loureiro: José Pedro e seu filho Serafim Pedro. Este fora um dos combatentes em França na 1ª Grande Guerra.

Deve -se a Paul Bergamin a construção de um edifício para os Correios, uma Padaria e uma Albergaria em Pampilhosa, numa estrada empedrada, estreita, por onde passava apenas um carro – presentemente é a Rua da República.

Grandes figuras da realeza e da política por aí passaram, dirigindo-se para o Palace Hotel do Bussaco, a fim de utilizarem as termas do Luso. A partir de 1899 passou a fazer a exploração do Palace Hotel, juntamente com Conrad Wissman, hoteleiro alemão, radicado em Portugal.

Presentemente o Challet Suíço, digno representante do património nacional, encontra-se muito degradado. Apelamos para o seu restauro…

(Continua)

Ver o Conimbricense de 19/1/1886