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Um centenário de sorrisos e de paixões


tags: Comércio com História Categorias: Região sexta, 29 novembro 2019

“Como está, senhor Alberto?”, pergunta uma utente do lar a José Alberto Leuschner, a poucos dias de este fazer 100 anos. Vive no Lar Dr. António Cânova Ribeiro, na Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, desde maio. Apoia-se num andarilho, mas, segundo conta, em jovem andava muito a pé. “Agora estou a pagar por isso”, brinca.

José Alberto Leuschner nasceu em Coimbra em 1919, mas vive na Mealhada desde os 22 anos. O sobrenome, de origem alemã, herdou-o do avô, que era natural da Baixa Saxónia. Em Coimbra trabalhou no Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa e na Junta Nacional do Vinho, de onde foi transferido para a Mealhada em 1941. “Entrei como paquete, saí como chefe de secção. Era eu que tratava das compras e vendas de vinhos e aguardentes”, recorda. Conta ainda que, quando havia falhas, era ele que corria o país a inspecionar o que se passava. Foi a Chaves, ao Fundão e a Santarém, como exemplos.

Dos tempos em Coimbra, José Alberto lembra quando jogava na Académica, onde era defesa. “Ao meu lado jogava o Dr. Ângelo Mota”, conta. Na cidade dos estudantes despertou para outras duas paixões: o cinema e o teatro. “Tinha uma vida boémia! Ia muito ao cinema e ao teatro. E depois voltava para casa a pé, do Terreiro da Erva até ao Calhabé”, destaca.

Aproveitar a vida

A caminho do centenário, José Alberto Leuschner ainda mantém a lucidez. Cuidados para chegar a esta idade? Confessa que nunca teve muitos. “Não se privava de nada. Era tudo à base de comida caseira. E nunca foi muito de medicação e sempre recusou tomar vacinas. Até a da gripe recusou”, descreve José Carlos, o único filho de José Alberto.

Chegado à Mealhada em 1941, Leuschner casou dois anos depois com Aurora, sua companheira de 76 anos, até à sua partida em junho, um mês depois de completar 100 anos. No Lar Dr. António Cânova Ribeiro, José Alberto diz sentir-se em casa, sobretudo com o cuidado das pessoas. “As senhoras daqui são muito atenciosas e sempre preocupadas. São pessoas de muito bom trato. É a melhor coisa deste lar”, elogia.

Os tempos de cinema e teatro, para José Alberto, já passaram. Agora, o mais perto que tem é a televisão. “Já não vou ao cinema nem ao teatro, mas ainda vejo a televisão”, aponta, enunciando logo a seguir o que mais gosta de ver: futebol! “O meu clube é o Benfica”, exclama.

José Carlos destaca a grande vida social que o pai teve no concelho, não sendo capaz de dizer que não a ninguém. Fez parte da Direção dos Bombeiros Voluntários da Mealhada, trabalhou na Junta de Freguesia e integrou os corpos gerentes do Grupo Desportivo Mealhada. “Participava muito nos teatros e na sua organização, ajudava muito os peregrinos, em tudo o que precisassem”, completa.

“Sinto-me bem”

A caminho dos 100 anos, José Alberto Leuschner assegura estar bem de saúde. Fala com fluência, ouve bem, as únicas dificuldades são a andar. “Tenho um 'pacemaker' para me auxiliar nos batimentos”, revela. A viver na Mealhada há 78 anos, entende que a grande diferença tem a ver com a urbanização da zona. “Não havia este casario todo. Foi a grande diferença.