Grupo Cénico Santa Cristina: Um encontro de gerações que faz por erguer a aldeia e manter vivo o legado deixado há 40 anos

São gerações de gerações, até de várias religiões, que abraçam um espírito único vivido na aldeia de Santa Cristina. E tudo isto com um só propósito: dinamizar a terra que já viu tantos partirem e outros tantos chegarem, e manter vivo o que os antepassados fizeram e deixaram. É assim que se carateriza o Grupo Cénico Santa Cristina, fundado há 40 anos, que junta as suas gentes num caloroso convívio de várias idades, com diferentes ideias e ideais e que, unidos, fazem o teatro acontecer – este que é o grupo de teatro mais antigo do concelho da Mealhada -, mas também desenvolvem outras atividades paralelamente, como a Matança do Porco, a Descida do Rio Mondego, a participação na Feira das Tasquinhas do Travasso, organizada pela Junta de Freguesia da Vacariça, a dinamização da aldeia quer no Natal como na Páscoa, o famoso baloiço, entre outras atividades que envolvem a parte cultural com a questão gastronómica.
“O grupo foi fundado no dia 20 de maio de 1981, fez 40 anos, mas já existia uns anos antes. E tudo começou com uma brincadeira. A ideia de criar o grupo foi num casamento de um casal de Santa Cristina. E no autocarro à ida para esse casamento, como era comum, um grupo de jovens na altura começaram a conversar e tiveram a ideia de criar um grupo de teatro. Eles juntaram-se, acabaram por fazer uma peça, duas, três… e depois acabaram por criar oficialmente o Grupo Cénico Santa Cristina, com os estatutos e com tudo certinho. Mas isto foi numa primeira fase do grupo, porque houve uma paragem”, começou por explicar Liliana Duarte, da direção do Grupo Cénico Santa Cristina, adiantando que tudo retornou numa segunda fase. “Após alguns anos de paragem, há um grupo que “ressuscita” a atividade teatral, curiosamente muitos deles filhos destes criadores, que começaram a ver as peças dos pais, viam fotografias e tiveram pena. Com a ajuda dos populares, foi criada a sede e nós temos registos antigos muito interessantes do esforço dos populares para conseguirem erguer a nossa sede que, ao longo dos anos, já contou com alguns melhoramentos, desde a pintura exterior, o piso e também as casas de banho totalmente remodeladas”, acrescentou Liliana, destacando que toda a verba angariada é fruto das atividades que desenvolvem. Na vertente educativa, em setembro, o grupo abriu uma turma de teatro na sede dos 6 aos 12 anos, em parceria com a Companhia de Teatro Atrapalhar-te, sendo o objetivo apostar na camada mais jovem e, até, juntar as famílias em palco para começarem a apresentar peças, peças essas na linha do cómico e escritas pelos próprios.
Nesta aldeia nada impede a vontade solidária que carregam e, Liliana Duarte, contou que tudo o que é feito é por “amor à camisola” e acaba por ser um motivo para todos se juntarem. “É muito curioso porque nós acabamos por ir buscar pessoas que não fazem parte da direção, nem do grupo de teatro, alguns nem sócios são, não são da terra, mas são amigos e contribuem com isto ou com aquilo. E esta vontade em ajudar é visível, por exemplo, no facto de, recentemente, para fazer as decorações de Natal, as várias religiões aqui da terra juntaram-se – temos maioritariamente a religião católica, mas também temos algumas famílias ortodoxas e da congregação cristã – e, mesmo as famílias que não comemoram o Natal, ajudaram a fazer as decorações. Quando nos juntamos para fazer alguma atividade, fazemos todos. Nada é limitador. E nós gostamos muito deste espírito, das pessoas e desta cooperação que existe das pessoas da aldeia. E basicamente é isso que nos move”, descreveu.
O plano de atividades para o novo ano já está definido e junta todas as iniciativas habitualmente realizadas pelo grupo. O trabalho em mãos para os próximos meses é o Dia Mundial do Teatro, assinalado a 27 de março, e o fim-de-semana do Dia Nacional dos Moinhos, sempre comemorado, já que é em Santa Cristina que está o único moinho do concelho a funcionar.
Para 2022, os desejos são comuns a todos e dar continuidade ao esforço de todo o trabalho quem tem sido feito, desde 1981 até aos dias de hoje, é o que mais ambicionam. “Eu sinto que este este projeto começou do nada e que as pessoas para chegar onde chegaram foi graças ao seu esforço e trabalho. Se os nossos antepassados trabalharam tanto e fizeram tantas peças de teatro e não tinham nada… E nós, que agora temos uma sede fantástica com boas instalações, com aquecimento, sistema de alarme contra incêndio, camarins e tudo, vamos deixar morrer? Não podemos. A ideia é que as gerações que peguem neste projeto consigam dar continuidade ao esforço que foi feito até agora. No fundo, é o legado que os nossos pais deixaram. Nós costumamos dizer que somos amadores - e somos porque só temos uma atriz profissional -, mas temos isto no sangue que foi transmitido pelos nossos pais. Nós somos a segunda geração, digamos assim, e a terceira geração já esta a trabalhar connosco”, contou Liliana Duarte.