Diretor: 
João Pega
Periodicidade: 
Diária

É na música e na arte que Francisco Saldanha encontra o par perfeito e dá cartas


tags: Mealhada Categorias: Cultura segunda, 24 janeiro 2022

É num misto entre a música e a arte que o mealhadense Francisco Saldanha encontra o par perfeito. O gosto pela música surgiu bem cedo e nem Francisco Saldanha imaginava que mais tarde a vida tomasse outros rumos e também o levasse para o mundo da pintura, despertando-o para o seu talento nato de pegar num pincel e tornar uma tela em branco numa verdadeira obra de arte.

“Tudo começou tinha eu uns 11 anos. Comecei pela música e entrei numa escola de música que havia na Mealhada. Fui o primeiro aluno a conseguir concluir o método de ensino “Órgão Mágico”, de Eurico Cebolo e, posterior a isso, já com 17 anos, ingressei no Conservatório em Coimbra com piano clássico. Fiz os testes e passei com distinção. Só existiam 8 vagas, haviam uns 80 alunos a concorrer e davam prioridade aos mais novos. Entrei em 3º lugar e foi dos dias mais felizes”, relatou Francisco Saldanha, partilhando que um dos seus sonhos era tocar num grupo grande, sonho esse que foi realizado. “Nessa mesma altura fui convidado também para um grupo de originais e também fui convidado para dar aulas numa escola em Cantanhede. Nesses tempos já me estava a destacar. E, a partir daí, comecei a traçar o meu caminho e realmente percebi que era por ali”, adiantou Francisco Saldanha, que desde logo não teve dúvidas que a música seria parte do seu caminho. No que diz respeito à pintura e à arte, a vida desde cedo deu-lhe sinais de que também dotava desse talento, mas só mais tarde, cerca de 30 anos depois, é que Francisco Saldanha explorou a sua veia artística.

“No ciclo uma das disciplinas que mais gostava até era Educação Visual, como se chamava na altura, e eu empenhava-me nessa disciplina, fazia já bons trabalhos e era o melhor da turma. Houve até um momento em que uma professora pediu se podia sentar-se ao meu lado para me ver desenhar, mas eu nunca percebi o porquê. Na minha ótica eu achava que desenhava um pouco acima dos outros, mas nada de especial. Fora isso, nunca mais desenhei. Passaram cerca de 30 anos e, há dois anos, é que voltei ao desenho. Mas o voltar ao desenho veio na sequência da curiosidade de construir instrumentos. Portanto, eu tenho várias fases e surge tudo devido à música: os sentidos, a paciência e o foco. Parte das obras têm alguns instrumentos, mas abordam mais as emoções”, referiu o artista. São cerca de 200 as obras que já criou e é no silêncio da noite que lhes dá vida. “Eu por noite pinto um quadro e, no mínimo, demora 6 horas. Não é todas as noites, mas quando decido que é para pintar tenho de terminar o quadro nessa noite. Não consigo começar, parar e começar no outro dia. Se eu paro, no dia seguinte há ali um receio ou já não estou tão conectado”, explicou. Das 200 telas, cerca de 80 a 90 pertenceram à exposição “Nem eu sei que sabia fazer”, que esteve patente ao público durante um ano no Cineteatro Messias. “Na pintura eu sou um autodidata. Ninguém me ensinou técnica nenhuma e a exposição foi uma amostra de todas as experiências e de todas as técnicas que eu explorei. Ou seja, tenho pinturas a óleo, em acrílico, em aguarela, a carvão e a lápis grafit e lápis de cor porque eu depois comecei a fazer caricaturas. E algumas técnicas que eu improvisei, como a mistura de cores”, disse.

O nome da exposição espelha aquele que foi o seu percurso, uma vez que desenhar rostos nunca fez parte do seu trabalho por receio de arriscar. “Quando era miúdo desenhava paisagens, casas e esse tipo de figuras geométricas. Agora caras eu nunca arrisquei porque sempre achei que era o nível máximo de qualquer pintor e que nem toda a gente conseguiria porque desenhar o rosto, principalmente o olhar, é uma expressão única e singular. E eu achava que era uma coisa transcendente conseguir tirar a essência da pessoa e a expressão do olhar. E quando eu arrisquei, fiquei admirado comigo mesmo. Agora olho para as pessoas e já consigo imaginá-las desenhadas a carvão. Mas eu sempre tive esta sensação, de olhar para as coisas e algo me dizia que conseguiria desenhar”, disse.

Francisco Saldanha está a ceder, pelo período de 3 a 5 meses, as suas obras de arte que estiveram em exposição. São necessários critérios, que o artista avalia, tais como ter um espaço relativamente grande no interior de sua casa, de preferência sala, e uma parede lisa e sem humidade. “Levar os quadros para casa significava que alguns deles iam estar encostados uns aos outros a apanhar pó, porque não tenho espaço para tanto quadro. E para mim é de muito agrado saber e ver um quadro meu exposto numa parede de uma casa de uma pessoa que gosta de arte. Saber que o quadro está a ser visto e está a embelezar o ambiente de alguém é mais satisfatório do que tê-los aqui”, mencionou. O artista tem também algumas das suas telas para venda e faz retratos a carvão e lápis grafit e muitas são as encomendas, não só por cá como pelo estrangeiro. “Tenho muitas encomendas feitas a carvão e lápis grafit e comecei a identificar-me mais. É mais desafiante porque é preciso mais pormenor. Em 2 anos conquistei mercado, mesmo lá fora. Eu acompanho um grupo internacional de artistas na Índia e um dos meus quadros ficou viral em 5 dias, ganhou 36 mil reações no Facebook com gostos e partilhas. E então tenho alguns fãs por todo o mundo e foi um salto que nem eu esperava”, disse.

A próxima exposição já tem nome e chama-se “Expressões” e será dedicada a expressões feitas apenas a carvão e lápis grafit, com imagens impactantes e expressões faciais. Ainda não está definido o local, mas vai realizar-se este ano.

Os seus trabalhos podem ser vistos através da página de Instagram f.musico.f.