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Diária

Taisiia, Lidiia e Svitlana: rostos de angústia na esperança de encontrar um novo começo


terça, 29 março 2022

Svitlana, Lidiia e Taisiia. Três rostos de angústia. Svitlana deixou a cidade de Kiev, há 23 anos, em busca de uma vida melhor e foi na Mealhada, mais propriamente no Luso, que encontrou o conforto. Agora, vê também a sua mãe, Lidiia, de 80 anos, e a sobrinha, Taisiia, de 33 anos, partirem da mesma cidade que foram obrigadas a deixar por conta da guerra. Chegaram sexta-feira, dia 4 de março, e só tiveram tempo de pegar no passaporte. Com elas trouxeram apenas a roupa que tinham no corpo e é no colo de Svitlana que, agora, encontraram o seu refúgio.

Taisiia contou ao nosso jornal como foi o momento que decidiu abandonar o país que a viu nascer e crescer. Foi uma questão de instantes e foi a oportunidade que teve de retirar também a sua avó do pesadelo que o país ainda hoje está a viver. “No dia 24 de fevereiro, eu e a minha avó acordámos com o som de bombas, um som que se repetiu muitas vezes. Estivemos quatro dias em Kiev e eu achava que era onde íamos ficar, mas percebi que teríamos uma oportunidade de fugir e que essa oportunidade poderia não se repetir. Por isso, decidi tentar deixar a nossa casa e um amigo arranjou um táxi para nos levar à estação de comboio”, começou por contar Taisiia, adiantando que já na estação, não conseguiram arranjar lugar no comboio e Taisiia chegou a perder a sua avó na multidão de pessoas que tentava também abandonar o país. “Quando a encontrei, decidimos passar a noite na estação de metro e, no dia seguinte, conseguimos apanhar um comboio para Lviv que estava cheio, desde crianças, mulheres e homens. Já em Lviv, decidimos ir para a Polónia e como a minha tia vive em Portugal, achei que devíamos ficar com ela. Também havia muita gente a tentar ir para a Polónia e havia apenas um comboio. Conseguimos lugar e seguimos para a Polónia, para Przemyls. De lá, conseguimos apanhar um comboio para Cracóvia, onde passámos uma noite no aeroporto e depois chegámos ao Porto de avião”, partilhou.

Agora, já por cá, ainda estão a recuperar força. Taisiia ficou surda com os bombardeamentos. E Lidiia caía e tremia e demorou algum tempo a conseguir passear pelas ruas. Estão instaladas numa casa familiar, que não era habitada, e por isso está a ser recuperada, tendo sido necessário colocar eletricidade e água quente. Portugal é por agora a casa desta família, onde a passo e passo procuram um novo rumo, sem nunca esquecer o que viveram. Por enquanto, Taisiia conseguiu manter o posto de trabalho, em teletrabalho, numa empresa ucraniana, cujo dono é de Azerbeijão, e que tem assegurado os trabalhadores ativos. Contudo, a jovem precisa de um computador para que possa continuar o trabalho remotamente e tornar estes tempos mais próximos de uma vida “normal”.

Ainda assim, para Svitlana, o pensamento continua no outro lado da Europa. Se por um lado a sua mãe e sobrinha já estão em segurança, por outro, o seu irmão, cunhada e sobrinha, de 9 anos, ainda se mantêm em Kiev porque “não conseguem sair e a cidade está cercada pelos russos”. “Eu só estou a recuperar agora de toda esta situação, mas não é assim tão fácil. É um processo”, avançou ao nosso jornal Svitlana, que continua a aguardar notícias do irmão.

 

Onda solidária sentiu-se de perto na Mealhada

Na Mealhada a união dos populares não passou despercebida perante toda a situação que se vive na Ucrânia. Várias pessoas juntaram-se numa onda solidária, através de uma iniciativa promovida pelo grupo Transportes Pascoal e Transportes Marquês de Pombal, que partiu de um camionista, com o objetivo de reunir bens e com os seus camiões entregarem na Polónia, junto à fronteira com a Ucrânia. Inicialmente a expetativa era de encher dois camiões, mas rapidamente passou a quatro camiões, contando também com o apoio do Município da Mealhada que desde logo se associou com um ponto de recolha na Loja Social.

Na Mealhada a união dos populares não passou despercebida perante toda a situação que se vive na Ucrânia. Várias pessoas juntaram-se numa onda solidária, através de uma iniciativa promovida pelo grupo Transportes Pascoal e Transportes Marquês de Pombal, que partiu de um camionista, com o objetivo de reunir bens e com os seus camiões entregarem na Polónia, junto à fronteira com a Ucrânia. Inicialmente a expetativa era de encher dois camiões, mas rapidamente passou a quatro camiões, contando também com o apoio do Município da Mealhada que desde logo se associou com um ponto de recolha na Loja Social.

Fernando Lopes, gestor de qualidade dos Transportes Marquês de Pombal, adiantou que o grupo “não podia ficar indiferente a esta iniciativa por parte dos seus funcionários”, já que um terço dos motoristas são ucranianos e, por isso, alguma coisa queriam fazer para ajudar.

O grupo continua a ser solicitado por empresas e outras entidades para fazerem chegar bens essenciais e tornou-se parceiro dos CTT – Correios de Portugal que iniciou uma campanha para o transporte de ajuda humanitária para a zona de conflito.

As empresas Transportes Rama e Transportadoras do Valado também levaram os bens recolhidos no Município, bem como de outros pontos do país, para ajudar a população ucraniana.