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Grupos de Ação Sócio Caritativos: olhar atento de generosidade permite apoiar cada vez mais famílias


tags: Solidariedade, Mealhada Categorias: Especial terça, 12 abril 2022

É sob o olhar atento e o estender de mão para ajudar que assenta a missão dos sete Grupos de Ação Sócio Caritativos das Paróquias da Mealhada, Casal Comba, Barcouço, Ventosa do Bairro, Luso, Pampilhosa e Vacariça. Sem olhar a quem, seja de que religião for, estes grupos estão sempre abertos a qualquer dificuldade das pessoas e é neles que se encontra a primeira resposta possível e imediata. “Nós estamos atentos e tentamos dar sempre aquela primeira resposta que tem de ser na hora e depois encaminhamos para os serviços competentes e que têm capacidade de resposta. Seja a quem for. Nós somos católicos, mas ajudamos toda a gente”, começou por partilhar Cristina Louzado, coordenadora do Grupo de Ação Sócio Caritativo da Paróquia da Mealhada.

Ajudar é a palavra que move vários cooperantes a amparar as famílias carenciadas ou que pontualmente necessitam de alguma ajuda. Os grupos atuam em várias áreas, sendo a ajuda alimentar a mais solicitada. “Apoiamos regularmente famílias com cabazes alimentares e isso é uma grande parte do nosso trabalho”, contou Cristina Louzado. A ajuda passa também pelas rendas da casa no primeiro ou segundo mês que as pessoas precisam de uma resposta urgente e imediata e que nem sempre conseguem junto dos serviços sociais, uma vez que estes exigem determinadas burocracias. “Ajudamos também nas contas da farmácia, porque infelizmente temos situações em que as pessoas deixam de fazer a medicação porque não têm dinheiro para pagar os medicamentos. E depois há aqueles casos pontuais, que também são muitos hoje em dia, que ajudamos na conta da luz e da água. Noutros casos, a conta da internet. Porque atravessámos uma pandemia e ainda estamos a atravessar momentos difíceis e o estudo teria que ser online para as crianças. Houve famílias que ainda agravaram as suas contas com essa despesa”, explicou a coordenadora.

De acordo com Cristina Louzado, no concelho da Mealhada há cada vez mais famílias a passar dificuldades, quer pessoas idosas como casais jovens e com crianças. “Há aquelas famílias que estão a passar dificuldades, mas que é uma pobreza envergonhada. Que nós nem sempre conseguimos chegar até elas ou quando nos apercebemos já são casos em que as pessoas estão a passar muitas limitações”, disse, adiantando que só o Grupo de Ação Sócio Caritativo da Paróquia da Mealhada apoia cerca de 35 famílias. “A nossa função é ajudar com consciência. Tentamos perceber a situação da família ou da pessoa. E depois não é só esta ajuda material que fazemos. Nós tentamos também encaminhar e acompanhar estas famílias no sentido de que há famílias que precisam de outro tipo de ajuda. Tentamos orientar e guiar para que a pessoa se consiga erguer novamente num todo, e não só no aspeto material. Que às vezes parece-nos mais importante, mas este aspeto interior e psicológico de cada um é fundamental”, salientou.

Cristina Louzado admite que os grupos recebem cada vez mais pedidos de apoio e grande parte, acredita a coordenadora, deve-se à recetividade e abertura que o Padre Rodolfo Leite, presidente dos sete grupos, tem para com as pessoas. “Além da pandemia e do desemprego e de todo o contexto social e económico que estamos a viver atualmente, o aumento da procura está também relacionado com o facto de as pessoas sentirem confiança no Padre Rodolfo Leite e também a sua abertura para estes casos. As pessoas às vezes precisam de falar e o Senhor Padre tem um dom que é realmente saber ouvir-nos. E, portanto, temos de ouvir as pessoas para que elas sintam esta proximidade. Não as julgamos e tentamos perceber o motivo de estarem em determinada situação”, declarou.

 

“Falta habitação social e apoio nas rendas”

O trabalho destes grupos prende-se na generosidade e solidariedade, 365 dias por ano, contudo, enfrentam barreiras que limita de ajudar ainda mais. “Continuo a achar que falta habitação social, não de gerarmos bairros onde se juntem pessoas com dificuldades, porque isso não é uma mais valia para ninguém, nem para as pessoas carenciadas nem para a sociedade no geral. Mas acho que falta um tipo de apoio por parte do Município para que as pessoas consigam uma ajuda para pagarem as rendas. As rendas na Mealhada estão altas e, pior que isso, é que não há habitações para alugar e vemo-nos aflitos quando é preciso arranjar alguma habitação. Além de que a habitação que existe não tem condições e nós temos sempre que intervir”, adiantou a coordenadora.

Outra das barreiras está associada ao facto de serem um grupo de Igreja, sem nada ligado ao Estado, pelo que não têm acesso direto a qualquer registo da Segurança Social e a ajuda é com base naquilo que “as pessoas transmitem e a avaliação da sua sitação”. “Normalmente, articulamos com o Serviço Social da Câmara ou com a Segurança Social para tentar perceber mesmo a situação da pessoa, muitas das vezes para a encaminhar porque algumas famílias não têm bem a noção do que podem fazer e ao que têm acesso. Consequentemente, como não somos do Estado, vivemos de donativos, dos nossos parceiros e da ação de atividades que fazemos para recolher fundos”, transmitiu Cristina Louzado.

Ainda assim, descreve esta missão como sendo gratificante: “É um trabalho muito gratificante e ao mesmo tempo conseguimos envolver a comunidade, os elementos do grupo e das Paróquias no sentido de estimular para a necessidade que há de nos ajudarmos uns aos outros. É trabalhoso, mas é gratificante. Agora na Mealhada temos uma mais valia, juntamente com o Senhor Padre Rodolfo, que é a comunidade das Irmãs Criaditas dos Pobres que também nos vieram dar uma grande ajuda, no sentido em que as pessoas sentem mais confiança, abertura e intimidade. E tem sido também uma grande ajuda e um ensinamento para nós, grupos, na forma de como lidar com as pessoas que passam necessidades. Porque realmente a filosofia das Irmãs e a sua maneira de estar é um ensinamento para todos nós”, partilhou.

“As pessoas não estão desamparadas. Há sempre uma resposta imediata que se consegue dar enão vale a pena o desespero. Nós, Grupos de Ação Sócio Caritativos, continuamos a trabalhar em conjunto e ajudamo-nos entre todos. Não desistimos de ninguém e, apesar de sermos cristãos, não olhamos a religiões. Ajudamos toda a gente e encaminhamos para que a pessoa se consiga reerguer e restruturar e isso é que é realmente gratificante, é ver que a pessoa consegue orientar-se, reerguer-se e reconstruir-se”, concluiu.