Diretor: 
João Pega
Periodicidade: 
Diária

Perspectiva - Abril, Abril, Abril! | Opinião


tags: Mauro Tomaz Categorias: Opinião quinta, 05 maio 2022

Abril é o corrente mês e nunca é demais falar e escrever sobre Abril porque Abril é um mês muito especial para mim, para si que me está a ler e para todos os portugueses em geral… Abril, Abril, Abril. Nunca é demais lembrar “as portas que Abril abriu”, pegando nas extensas e poéticas palavras brilhantemente escritas por Ary dos Santos em 1975, um ano depois da revolução. Da noite fez-se dia naquela madrugada de 24, tendo nascido o brilho luminoso da estrela da liberdade pelo meio do caos negro das trevas da censura… mas não foi só isso, dada a imensa explosão económica e social que a partir dali se verificou. O que era de um punhado muito pequeno passou a ser de todos nós, do povo. Não era só a opressão que esmagava os portugueses, mas também a profunda miséria em que estavam irremediavelmente mergulhados… no entanto, “o grito que foi ouvido / tantas vezes repetido / dizia que o povo unido / jamais seria vencido”. E até hoje, 48 anos depois, o que era não mais voltou a ser. Abril, Abril, Abril. Não, não vivemos numa sociedade perfeita, mas tudo é melhor agora do que era antes. Da Saúde até à Educação, passando por uma Igualdade que ainda está em construção… que o digam as mulheres: agora emancipadas, mas antes amarradas e condenadas a uma vida de escravatura doméstica, de parideiras e de serventia às necessidades dos homens. Tudo mudou e ainda bem que assim é.

Abril é o corrente mês e nunca é demais falar e escrever sobre Abril porque Abril é um mês muito especial para mim, para si que me está a ler e para todos os portugueses em geral… Abril, Abril, Abril. Nunca é demais lembrar que Abril nunca vai deixar de ser um sério aviso à constante ameaça dos tiranos e dos autocratas, dos chefinhos e de todos a quem “o povo deu o poder”. Sim, é o povo que tem o privilégio de dar o poder… mas também de o tirar. Nem que pouco ou nada se chegue a aquecer o lugar. Porque “se esse poder um dia / o quiser roubar alguém / não fica na burguesia / volta à barriga da mãe!” Não fica na burguesia nem nos “consórcios fabris”, não será novamente entregue aos “banqueiros fascistas” e aos “agiotas do lazer”, muito menos aos “latifundiários machistas”. O poder é e será sempre do povo que manda primeiro, até em quem por ele se mostra representado. Os autoritários estão desautorizados e completamente fora das modas, pelo que as novas democracias hoje nos exigem que se grite bem alto: o fascismo não passará! O racismo não passará! Todos os ismos e mais alguns que lesem a liberdade individual e a liberdade que é de todos nós não passarão! Fica o aviso deixado aos pequenos déspotas abusivos e aos autoritários wannabes que chegam “lá” e se põem logo de dedo em riste. O poder é do povo, não se esqueçam! O poder “volta à barriga da terra / que em boa hora o pariu”… até porque “agora ninguém mais cerra / as portas que Abril abriu!” É um aviso em tom de ameaça. Tudo mudou e ainda bem que assim é.

Abril é o corrente mês e nunca é demais falar e escrever sobre Abril porque Abril é um mês muito especial para mim, para si que me está a ler e para todos os portugueses em geral… Abril, Abril, Abril. A minha tia-avó Fernanda de Paiva Tomaz foi a mulher que mais tempo passou enclausurada no antigo regime, durante quase dez anos. Foi levada ao extremo durante todo esse tempo, humilhada e torturada das mais diversas formas, sem nunca ter vergado à injúria física, ao enxovalho psicológico e à penosa e medonha privação de não poder ver o seu próprio filho a crescer. No preciso momento em que é condenada em tribunal, ergue o punho e grita com uma coragem inaudita: “Viva o PCP! Viva o Povo Português!” A capacidade de resistência desta fervorosa e singularíssima revolucionária antifascista sempre foi e continua a ser um orgulho e uma inspiração brutal para mim.

É também a ela, como a tantos outros, que ainda hoje agradecemos Abril!

Viva o Povo Português! Viva a Liberdade! Viva o 25 de Abril!

Abril! Abril! Abril!

Mauro José Tomaz