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Arte em cerâmica: São começou com um anjo, mas hoje é conhecida pelos ''Presépios da Bairrada''


tags: Mealhada Categorias: Cultura terça, 31 maio 2022

Presépios, santos, como o Santo António, e até mesmo crucifixos é o que surge do trabalho que Maria Conceição Rosmaninho desenvolve em cerâmica. O arranque do projeto iniciou de uma forma muito natural, quando São, assim tratada pelos seus, queria oferecer uma lembrança no Natal às suas amigas e ideias não surgiam. Até que criou a sua própria “ideia”. “Eu aposentei-me em 2002. E, na altura do Natal, era sempre difícil arranjar umas prendas, algo que fosse diferente, para oferecer às minhas amigas. E, entretanto, o meu filho, como tem um atelier de cerâmica aqui em casa, pedi-lhe um pouco de barro, que depois fiquei a saber que se chama terracota, e sentei-me num degrau a moldar. E ele emprestou-me uma tábua e fiz um anjo. Mas perfeitamente compacto, não tinha a mínima ideia de como era trabalhar com pasta cerâmica. E, depois, ele lá me deu a dica de que teria de ser oco”, começou por contar, adiantando que acabou por fazer um anjo para cada uma das suas amigas, todos eles diferentes, mas com detalhes relacionados com as mesmas. “Um anjo tinha 3 corações porque uma delas tinha 3 filhos, outro tinha livros porque uma é professora, e assim… “, contou São.

A verdade é que de um anjo nasceram várias figuras, sugeridas por clientes, que desafiaram São a fazer um presépio e até mesmo um Santo António ou os crucifixos que “também têm um punho muito especial”, rematou.  Ficou conhecida por fazer os “Presépios da Bairrada” que estão sempre postos numa folha de videira decalcada, peça essa que é a mais procurada.

É um processo demorado, trabalhoso, mas São coloca em cada figura o seu empenho e dedicação: “Demoro uma tarde a fazer um presépio ou um Santo António. Depois tem que secar, vai para a mufla, embora necessite de uma quantidade suficiente para encher a mufla porque é algo que demora muito tempo e gasta muita energia. E demora uns meses até eu ter a quantidade suficiente para eu colocar na mufla e, depois, na mufla, normalmente está quase dois dias, com temperaturas entre os 900 e os 1000 graus. E depois tem que estar tempo suficiente para arrefecer e abrir a porta”, expôs São, que termina as peças com um verniz mate, este que é o último passo deste processo.

A sua primeira e única exposição aconteceu em 2003 no Cineteatro Messias, logo após ter iniciado o projeto. Por muito tempo viu as suas peças serem vendidas na loja Portugal Rural, em Lisboa, passou por vários programas de televisão e chegou a ser convidada pela Câmara de Viana do Castelo a disponibilizar alguns presépios, resultando num prémio nacional. Agora, percorre algumas feiras de artesanato mais próximas para poder dar continuidade a esta sua paixão.

Para São, este afazer acaba por ser um momento de descontração, ao mesmo tempo que vê surgir das suas mãos arte em cerâmica. “O próprio manuseamento da pasta cerâmica é uma coisa que é extremamente agradável e descontrai. Porque enquanto estou a fazer uma peça, não penso em mais nada. Estou a viver aquele momento de criação. Ver surgir das minhas mãos uma coisa que nunca na minha vida me passou pela cabeça que seria capaz de fazer é extremamente compensador”, completou.

As peças, disponíveis na Rota da Bairrada, na Curia, e na loja do Posto de Turismo da Mealhada, têm um valor a partir dos 15€.