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''A sensação que tenho é que estou a viver um sonho''


tags: Mealhada Categorias: Especial sexta, 03 junho 2022

O cheiro a óleo, o barulho dos carros e a emoção de ver o seu pai e tio a preparem-se para as corridas levou Pedro Pereira, da Mealhada, e engenheiro mecânico, a mergulhar igualmente no mundo dos ralis. Com apenas 25 anos, é um dos mais jovens pilotos de ralis federados desta região e o único piloto júnior (abaixo dos 27 anos). Venceu recentemente o Rally de Alvaiázere, a segunda prova pontuável para o Campeonato Start Centro de Ralis. Com poucos anos de experiência, mas que já lhe valeram infinitos momentos e sensações de adrenalina, o piloto recorda algumas das suas memórias de infância. “O meu pai e o meu tio já disputavam ralis cá em Portugal quando eu nasci, quer no rally do Bussaco, como no antigo Campeonato Regional Centro e, o facto de os ter seguido e de ter nascido no meio do óleo, como se costuma dizer, acabou por me criar um bichinho que depois tornou-se um objetivo de conseguir chegar aos ralis. Lembro-me perfeitamente de eles estarem a dar os últimos pormenores e quando colocavam o carro a trabalhar, para mim era uma emoção incrível. Tenho na minha memória o cheiro a gasolina e o barulho dos carros. E tornou-se uma grande paixão para mim e o meu objetivo era iniciar-me neste desporto assim que tivesse oportunidade”, avançou Pedro Pereira que viu esse objetivo cumprido. Tirou a carta aos 18 anos e, aos 21, teve a oportunidade de se lançar nos ralis.

Foi então em 2018 que mergulhou oficialmente neste mundo, através de um troféu em Portugal, o Challenge 1000, que era só para carros de mil cilindrada. Fez algumas provas em 2018, ainda sem muitos apoios e, em 2019, venceu esse troféu que lhe abriu algumas portas para poder ter mais patrocínios. Entre 2020 e 2021, evoluiu para outro carro, um Peugeot 106 1300, no qual fez algumas provas a nível regional e, já no final de 2021, acabou por montar um projeto para participar no Rally Legends Luso-Bussaco para correr num Peugeot 208 R2, “um carro que atualmente ainda disputa o campeonato do mundo e da europa”. “Montei esse projeto junto dos patrocinadores e o resultado a nível desportivo e mesmo a nível de promoção dos nossos patrocinadores correu muito bem e eles acreditaram em mim. E montámos o projeto para correr em 2022, este ano, com esse mesmo carro para fazer um campeonato inteiro, denominado de Campeonato Start Centro. Fizemos a primeira prova que foi o Rally da Bairrada, em Vagos, contra uma forte concorrência de vários campeões regionais e nós éramos os mais inexperientes. Liderámos do início ao fim, para nossa surpresa, mas acabámos por ter uma saída de estrada que nos tirou a possibilidade de ganhar pela primeira vez, na nossa carreira, um rally à geral. Depois, a segunda prova, o Rally de Alvaiázere, dominámos novamente do início ao fim. Mas desta vez chegámos ao fim da prova e vencemos essa prova”, descreveu.

Provas são preparadas antecipadamente e navegador tem um papel fundamental

Tiago Silva é o navegador do piloto Pedro Pereira, que considera que “o trabalho de um navegador é fundamental e é preponderante para um bom resultado”. “A minha função é conduzir, mas depois existe todo um trabalho muito demorado e que é preciso bastante dedicação, que é o trabalho em conjunto com o navegador. E a função dele é ditar-me as notas relativamente ao traçado que nós estamos a percorrer”, começa por explicar o jovem.

A preparação para uma prova é feita com uma semana de antecedência: “No fim de semana anterior à prova, e depois de sabermos onde é que as classificativas vão decorrer, dirigimo-nos até lá em estrada aberta, com o carro de estrada normal, e vamos começar a definir o traçado que iremos passar. Definimos distâncias entre curvas, o ângulo das curvas e definimos o andamento que teremos nessas curvas – se é uma curva sem afundo, se é mais lenta, mais curta, se temos que cortar um pouco a berma. Ou seja, eu vou ditando ao meu navegador aquilo que quero ouvir na altura da corrida. E isso permite eu saber com algum tempo o que se vai seguir, à medida que o meu navegante me dita as notas”, explicou.  

Tornar-se piloto profissional é o seu sonho de vida, assim como sagrar-se Campeão Nacional. “Quando eu me iniciei nos ralis havia sempre aquele sonho de me tornar piloto profissional e se tiver essa possibilidade, irei prosseguir esse sonho. Os ralis que estou a fazer neste momento é algo bastante sério que já envolve muito dinheiro de vários patrocinadores. No entanto, para nos tornamos profissionais, é preciso dar um importante salto a nível financeiro e realmente termos patrocinadores muito fortes que, além de assegurarem as nossas participações, também assegurem um salário”, adiantou o piloto, garantindo que com o trabalho de tudo para chegar lá.

“A sensação que tenho é que estou a viver um sonho. Quando vou para dentro do carro, é quase como uma sensação de que faço parte deste mundo. E é onde realmente me sinto bem e onde sou feliz”, revelou Pedro Pereira, que na sua carreira tem como parceiros a Gavicar, Arcada Imobiliária, Green Partner, Freguesia de Luso, Lalland, Dizainne, Speedy Parts e a equipa Domingos Sport.