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Francisco Sampaio é o rosto de uma profissão que tende a terminar


tags: Mealhada Categorias: Especial sexta, 17 junho 2022

É entre estofos, máquinas de costura, maquinaria e numa garagem com um portão verde, na Rua Dr. Costa Simões, que exibe a placa “Francisco P. da C. Sampaio – Estofos para Automóveis, Encerados e Tapetes”, que se encontra uma profissão que tende a terminar, mas que Francisco Sampaio ainda a mantém viva, sendo praticamente o único da Bairrada. Além de estofar carros, “nas horas de aperto”, também estofa cadeiras.

Deu os primeiros passos ainda tinha 12 anos. Mais tarde, fez a tropa e, depois, retomou à atividade que sempre lhe encheu as medidas. Tem 80 anos e, há quase 70, que o seu dia começa em Anadia – onde reside – e segue até à Mealhada, para pôr mãos à obra. “Quando vim para a Mealhada foi para me estabelecer, não havia cá nada. Encostávamos a bicicleta à parede e pronto. A única casa boa que estavam a fazer era aqui na rua, ao pé da ourivesaria, que foi um GNR que fez e chamam-lhe a “Casa das Lágrimas”. De resto era tudo velho. Só haviam empregados na Junta, na Nacional dos Vinhos e na Câmara. De resto, não havia aqui ninguém. Cheguei a ter dois empregados em tempos porque tínhamos muito serviço. Havia muita motorizada nessa altura e cheguei a fazer selins novos. Agora os tempos são diferentes. Já tem que se ter muito trabalho para ter serviço e aguentar”, contou Francisco Sampaio ao nosso jornal.

O trabalho continua, mas há semanas que se desloca às oficinas para ver se consegue algum serviço. “Mesmo para estofar, só carros antigos é que estão a aparecer. Porque os novos já vêm com muito material que exige pouca reparação. Relativamente a estofar cadeiras, os clientes escolhem o tecido e depois forra-se. Se for preciso cozer, temos as máquinas elétricas. Quando não é preciso cozer, é só agrafar e concluir com outros acabamentos. Demora algum tempo. É um serviço mais manual. E tenho o meu ajudante, que já aqui está há 35 anos”, revelou.

Para Francisco Sampaio, “não há segredos” para desenvolver este trabalho, mas sim dedicação e ver fazer, para depois executar também. “É uma profissão que tem que se aprender a fazer. Não pode aparecer qualquer pessoa que tirou um curso – que não há curso para isto – e que chegue aqui e saiba logo tudo. Isto é quase um aprender desde pequeno”, referiu. E foi assim mesmo que começou nesta área, ainda novo. “Antes, faziam a 4ª classe, se fizessem, e depois iam trabalhar. Ou para uma serralharia, ou para um mecânico, e iam aprender. Havia o artista e o ajudante, ao lado, e esse ajudante aprendia a profissão que depois vinha a trabalhar. O que não existe agora. E comigo foi assim mesmo”, acrescentou.

Esta é uma profissão que, segundo o mesmo, tende a terminar, o que entristece Francisco Sampaio. E, já com os seus 80 anos, adianta que não há muito mais que possa fazer para manter por muito mais tempo o seu negócio. “Tenho 80 anos e já sabemos qual é o rumo da vida, não há como enganar. Mas claro, tenho um empregado e não posso fechar. O problema é que estas casas pequenas, como a minha, estão sobrecarregadas como se fossem indústrias com 30 operários. Deveria ser mais simples e não sobrecarregar com tanto papel, fatura e deduções de IVA. Tudo isso acarreta despesa. E para uma pessoa sozinha a trabalhar, para ganhar para isto tudo, é muito difícil”, concluiu.

 

 

Francisco P. da Cruz Sampaio – Estofos para Automóveis, Encerados e Tapetes

Rua Dr. Costa Simões

231 202 071