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Diária

Filarmónicas centenárias são o hino da cultura do concelho


tags: Pampilhosa, Barcouço Categorias: Especial quarta, 10 agosto 2022

 São os vários reportórios, os músicos de diversas gerações e todo o empenho por manter um legado que há tantos anos foi deixado, que fazem com que a Filarmónica Pampilhosense e a Filarmónica Lyra Barcoucense 10 de Agosto tenham algo em comum: são as duas filarmónicas centenárias do concelho da Mealhada. A Filarmónica Pampilhosense com 102 anos assinalados em maio, dia 9, e a Filarmónica Lyra Barcoucense 10 de Agosto que assinala hoje 103 anos, embora os festejos fiquem para setembro ou outubro. Foi no âmbito deste mote, que o Jornal da Mealhada convidou os respetivos presidentes a partilhar todo o percurso de cada uma das filarmónicas. Quer Daniel Vieira, presidente e maestro da Filarmónica Pampilhosense, como Pedro Silva, presidente da Filarmónica Lyra Barcoucense 10 de Agosto, destacaram que dar continuidade ao trabalho feito, sem que hajam interrupções, é “fundamental” para manter uma filarmónica com mais de cem anos.

 

Filarmónica Lyra Barcoucense 10 de Agosto

É a mais velha filarmónica do concelho e desde 1919 que tem vindo a promover a cultura, através de um reportório diversificado, incluindo temas específicos para filarmónicas e ainda um conjunto alargado de arranjos que engloba vários géneros musicais, desde temas populares nacionais e internacionais, até a adaptações de peças mais eruditas. Segundo Pedro Silva, “a filarmónica cresceu desde que entrou o maestro Pedro Cipriano”. “E cresceu muito em qualidade. Tivemos o revés que foi a pandemia, que vários elementos saíram, embora tenhamos conseguido colmatar com a escola de música que trabalha muito bem”, adiantou. Atualmente a Direção Artística da Filarmónica e da Lyra (Escola de Música) está confiada, assim, ao maestro Pedro Cipriano, que dirige cerca de 40 executantes e que compõem o quadro de músicos da Filarmónica, tendo o mais novo elemento 11 anos e o mais velho 72.
A associação pode proporcionar o início de uma carreira profissional e são vários os músicos profissionais que ocupam cargos relevantes no meio musical nacional - especialmente no ramo militar - que iniciaram a sua aprendizagem musical nesta filarmónica. O presidente recordou ainda as várias experiências da associação e os momentos mais marcantes: “Já tivemos uma experiência em França, a internacionalização, em 2011. E já corremos o país de norte a sul, desde o
Algarve, até ao Gerês. Embora as maiores atuações sejam aqui na região. Nos últimos anos, um momento importante para a associação, foi a atuação com o Paco Bandeira no Cineteatro Messias, em 2018”, partilhou.
Quanto aos desafios de gerir uma filarmónica, Pedro Silva assegura que é a parte financeira. “Porque a única ajuda que temos, no fundo, é o subsídio anual da Câmara e da Junta de Freguesia de Barcouço, que não cobre as despesas anuais, com maestros, professores, e as despesas gerais. Ao fim de um ano, tudo somado, já é uma grande quantia. E nós, para superarmos isso, fazemos alguns eventos. Já fizemos cicloturismo, concertos, bailaricos e há alguns anos que fazemos a Feira de Saboreartes de Barcouço e exploramos a parte gastronómica, que nos dá mais algum
dinheiro”, disse. O outro desafio, é motivar e cativar os músicos a manterem- se na filarmónica. “E tentar melhorar sempre a qualidade”, acrescentou.
“Queremos continuar no mínimo como estamos e tentar formais mais músicos. Mas queremos também que os músicos e alunos se sintam bem e gostem de estar connosco”, mencionou Pedro Silva, relativamente às perspetivas para os anos que se avizinham.
Questionado sobre o significado destes quase 103 anos, o próprio é seguro de que “é uma grande responsabilidade estar à frente de uma associação centenária”. “Nos tempos que vivemos é tentarmos manter vivo este legado e tentar melhorar sempre. E transmitir às pessoas esta arte”, concluiu.

 

Filarmónica Pampilhosense

Com 102 anos feitos, num espetáculo assinalado no Cineteatro Messias, em conjunto com uma filarmónica belga, o objetivo é “valorizar e respeitar o legado que os fundadores deixaram”. Quem o refere é Daniel Vieira, presidente e maestro da Filarmónica Pampilhosense, composta por cerca de 25 músicos - o mais novo com 15 anos e o mais velho com 75 anos -, embora esta esteja numa fase de reestruturação, no sentido de voltar a atrair músicos que, por força da pandemia, deixaram a filarmónica.
Daniel Vieira começou por recordar como surgiu a banda filarmónica, destacando o enorme valor que a linha do comboio trouxe em termos de desenvolvimento à aldeia, na altura: “Uma das fábricas de tijolo, na ultima década de 1890, mais ou menos, fundou uma banda filarmónica. Era muito comum os trabalhadores juntarem-se para constituírem uma banda. Essa terá sido a primeira
banda. Depois, com o desenvolvimento, as artes foram crescendo também. A Pampilhosa acabou por ser um polo cultural muito importante. Depois, o primeiro fundador, Guilherme Ferreira da Silva, que era professor primário, achou por bem que se devia formar uma filarmónica e juntou várias pessoas influentes na altura”, contou. O reportório, esse tem sido “bastante eclético”, constituído por marchas que já foram deixadas por antigos maestros, nomeadamente, Joaquim Pleno, que também foi compositor e trabalhou durante 63 anos à frente da banda, mas também com cânticos religiosos, feitos para o acompanhamento das eucaristias e procissões. “Deve-se defender o facto de a associação não ter nenhum registo de qualquer paragem. Isso é importante, porque várias filarmónicas interromperam, por exemplo, por causa das guerras mundiais. Nos, é um facto, houve altos e baixos, mas o que está registado é que a banda nunca parou. Mal ou bem, sempre foi andando. Felizmente, tivemos sempre o mesmo
maestro durante 60 anos, o que trouxe alguma regularidade à banda. E depois temos vários pontos altos já no final do século XX, em que conseguimos internacionalizar a banda. A nossa primeira viagem, fora de Portugal continental, não foi uma internacionalização, mas foi uma viagem bastante importante, ao arquipélago dos Açores, em 2002. Em 2003 fizemos então a nossa internacionalização com uma viagem a Courcoury, que é uma vila geminada com a Pampilhosa. E, em 2005, fizemos a primeira de duas viagens à Bélgica, para fazer jus ao nosso intercâmbio”, revelou Daniel Vieira, destacando ainda os festivais onde a filarmónica participou, e outros que organizados pela própria, e também o estágio de orquestra da escola de música com o maestro Valdemar Sequeira.
Os maiores desafios, enquanto presidente de uma filarmónica, também passam pela “falta de apoios”. “Não falo do apoio a nível de autarquias - quer da Câmara Municipal, como da Junta de Freguesia de Pampilhosa –, porque isso tem acontecido. No entanto, nota-se uma falta de apoio do próprio povo, não digo só pampilhosense, mas da região. Claro que temos exceções à regra, mas nota-se isso. O desafio agora será saltar fora do problema da pandemia que ainda nos afeta. Já acalmou, não desapareceu, mas deixou marcas. E o associativismo foi o mais prejudicado. Queremos, pelo menos, solucionar a questão dos elementos efetivos da banda. E tentar ser uma das bandas da região mais requisitadas”, referiu. Neste sentido, as perspetivas passam por “procurar parcerias e outro tipo de atividades que a associação pode fazer, não necessariamente só com a banda, mas também com outro tipo de artes de palco, como o teatro, e tentar que a escola de música tenho o seu espaço e que seja promovida convenientemente”. “E, no fundo, é tentar que a escola, a banda e todas estas secções possam vir a oferecer cultura, mas
cultura de qualidade, à Pampilhosa e à região, para que se possa promover também este modo de estar na vida, que é no fundo consumir cultura. E tentar deixar um bom legado para que outros que venham consigam dar continuidade”, esclareceu. Para Daniel Vieira, os 102 anos simbolizam “história”. “Para já, chegar ao centenário e estarmos cá é valorizar o que os fundadores fizeram há cem anos atrás, é sobretudo valorizar e respeitar o legado que eles nos deixaram. Depois, o cem é sempre uma data muito redonda e nós estarmos cá nesta altura é, sobretudo, fazer parte de uma história”, salientou. “A Filarmónica Pampilhosense e a Filarmónica Lyra Barcoucense são duas bandas centenárias que acho que enriquecem muito o município da Mealhada. São estas duas associações que elevam a parte cultural aqui do município, em conjunto com outras mais novas, como os ranchos folclóricos, entre outras. Acho que todos juntos podemos fazer mais e melhor”, completou.