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Pedro Pereira depois de 20 ralis prepara-se para o Rally de Lisboa “a prova mais importante da carreira”


Categorias: Especial, Entrevista sexta, 30 junho 2023

Pedro Pereira é do Bussaco e desde sempre que está ligado ao desporto motorizado. Com apenas 26 anos, já irá participar no Rally de Lisboa de 16 a 18 de junho de 2023, prova candidata ao Campeonato de Portugal de Ralis de 2024.

Pedro Pereira Jr. contou ao Jornal da Mealhada como começou a competir no mundo do rally, quais são os seus objetivos e ambições futuros, qual a sua motivação, qual é o trabalho do navegador e a sua relação com o seu copiloto, Tiago.

O piloto de rally explicou como será o Rally de Lisboa e quais são as lições mais importantes que aprendeu ao longo da sua carreira.

Veja a entrevista completa no YouTube do Jornal da Mealhada, disponível ainda este mês.

 

Pedro, gostava de conhecer a sua história no rally? Como e quando começou?

Eu venho de uma família que já tem uma ligação ao desporto motorizado já há alguns anos. O meu tio e o meu pai são pilotos de rally desde, provavelmente, do início da época de 90. Quando eu nasci, já nasci no meio dos ralis, e foi algo que desde cedo despertou muito o meu interesse. Eu não me lembro da minha vida sem os ralis, é algo por que eu me apaixonei e vibrei.

Em 2018, tinha 21 anos, tive a oportunidade de concretizar esse sonho, nasceu em Portugal o troféu denominado Challenge 1000cc, que era um troféu de iniciação, low cost. Os ralis são um desporto extremamente exigentes a nível financeiro. Portanto, para começar tinha de ser mesmo numa competição que fosse controlada a nível de custos e que competitivamente fosse uma forma de entrada no desporto motorizado.

Assim foi, com a ajuda da minha família, que foi e é imprescindível na participação dos ralis, conseguimos alguns apoios e pequenos patrocínios, porque como estávamos a iniciar não podíamos dar grande projeção a nenhuma empresa, então os patrocínios que conseguimos foi mais por amizade e tenho muito a agradecer por isso. Agradeço imenso, por me terem ajudado na altura a iniciar e que me permitiram começar nos ralis.

Começamos em 2018, com um programa parcial, não fizemos o programa todo, e em 2019 decidimos apostar novamente nesse troféu de iniciação, e vencemos esse troféu, o que foi o nosso primeiro e até agora o único título da minha carreira desportiva.

 

Estiveram parados devido à pandemia, quando recomeçaram?

No final de 2021, havia um grande sonho de competir num Peugeot 208 R2, na altura era um carro que ainda competia no Europeu e no Mundial, hoje já existe um novo carro melhor do que esse. Mas na altura esse era o meu sonho. E junto de alguns patrocinadores foi possível participar no Rally Legends Luso Bussaco, que é o rally da terra, portanto fazia todo o sentido de concretizar um sonho com esse carro no rally da casa. Correu bastante bem a nível competitivo e promocional das empresas, o que nos permitiu estabelecer parcerias ainda maiores, para o ano 2022 e aí tenho mesmo de agradecer à Gavicar que é o nosso patrocinador principal, e que entrou connosco nesta nossa participação esporádica nesse carro. Tenho de agradecer imenso ao Sr. Mário por toda a confiança que tem depositado em mim, e esperamos continuar com esta parceria.

Em 2022, tive o meu primeiro campeonato a tempo inteiro, fui ao Campeonato Start Centro de Ralis, em que correu bastante bem, melhor do que eu estava à espera. Estivemos a lutar pelo campeonato até ao final da época, e se calhar devido à minha falta de maturidade nas provas e de estar a competir com outros pilotos com muito mais experiência do que eu, com quem aprendi muito, cometi alguns erros durante a época e que paguei caro por eles, deixei de estar na última prova do campeonato…

 

E o que espera do ano 2023?

Em 2023, o objetivo é dar continuidade à aprendizagem neste carro e agora montamos um projeto para esta prova que será até agora o maior desafio da minha carreira desportiva.

 

Qual é a sua rotina de treinos?

No desporto motorizado, quando são corridas em pistas e autódromos é mais fácil de agilizar um teste, financeiramente creio que seja mais dispendioso. Gostaria de testar mais do que testo neste momento, mas testar é sempre dispendioso e é algo que não faço com tanta regularidade como gostaria.

Vamos agora para a taça de Portugal e existem alguns pilotos que antes da prova vão testar, o que os permite colocarem-se num ritmo competitivo mais elevado. Nós financeiramente não temos essa possibilidade, juntamos o orçamento para estar presentes na Taça pouco tempo antes da prova, e não nos permitiu ter budget necessário para testar. No entanto, a prova vai ter uma espécie de treinos, denominado free practice que nos vai permitir voltar ao nosso ritmo competitivo esperemos nós e estarmos no nosso ritmo mais alto no momento da prova.

A nível físico já treinei mais do que estou a treinar, mas basicamente os treinos resumem-se a duas ou três vezes por semana, essa era a rotina que tinha.

 

Quais são as habilidades mais importantes que um competidor?

Acima de tudo a concentração, acho que é algo fulcral para qualquer competidor, seja em que desporto for. Nos ralis é fundamental, porque não nos podemos esquecer que estamos a conduzir em estradas do nosso dia a dia, que têm diferentes tipos de piso, de aderências, temos árvores de um lado e de outro, temos pessoas a ver-nos. E, portanto, temos de ter consciência que tanto é um desporto de algum risco e que tanto nos pomos a nós em risco como a algumas pessoas, que às vezes estão mal colocadas nas classificativas e nós temos de meter a nossa concentração no máximo para não cometer nenhum erro.

 

Qual foi o momento mais emocionante ou memorável que já teve na sua carreira de rally até agora?

Foi em Alvaiázere, foi a segunda prova do campeonato Start Centro de Ralis, foi a nossa primeira vitória à geral num rally.  Esse foi o ponto mais memorável até ao momento, porque desde criança que eu tenho o objetivo de andar nos ralis, então saber que cheguei a um dos meus grandes objetivos que era vencer um rally à geral é um sonho de menino.

 

Quais são os seus objetivos e ambições futuras como competidor de rally?

Quando era pequeno queria ser campeão nacional, obviamente que mantenho esse sonho. Ao longo do tempo, nós vamos crescendo e vamos percebendo que não é algo fácil, mas dado à dificuldade financeira de estar neste desporto a tempo inteiro e de se evoluir é preciso estar continuamente nos ralis. Ainda assim, o meu maior sonho é ser campeão nacional, espero conseguir, mas sei quais são as dificuldades adjacentes que é estar apenas no campeonato nacional. 

 

Pedro, para a semana vai ter uma grande prova, fale-nos sobre isso.

É a primeira vez que nós iremos até ao rally de Lisboa. O rally de Lisboa é a prova que pontuava para a taça de Portugal  de ralis, vai-se desenrolar nos dias 16, 17 e 18 de junho no centro do Nevrálgico em Belém, portanto vai ser a prova mais importante em que eu já participei e acaba por ser também uma preparação daquilo que é o nosso objetivo, que seria passar para o campeonato nacional de rally para o ano que vem, digo isto porque os ralis em que compito, neste momento têm 60, 70 quilómetros cronometrados e o rally de Lisboa que é uma prova que está candidata a integrar o campeonato nacional de ralis é uma prova com mais de 100 quilómetros cronometrados, portanto, a nossa concentração tem que ser muito maior, a preparação física também tem que ser muito maior e,  infelizmente, financeiramente é mais exigente.

A nossa presença no rally de Lisboa é acima de tudo para ver como é que as coisas correm com uma quilometragem maior, como é que nós conseguimos estar nas classificativas com menos passagens nos reconhecimentos, que foi isso que fizemos neste fim-de-semana: reconhecer o trajeto, tirar notas, de forma a prepararmo-nos de melhor forma para o fim-de-semana que vem.

É um rally com muito mais classificativas do que estou habituado, portanto terei obrigatoriamente de ter uma preparação muito maior e melhor também. Os objetivos com esta participação são acima de tudo aprender, correr fora da minha zona de conforto que é um rally grande com 100 quilómetros cronometrados e classificativas que não conheço. Obviamente o objetivo passará por vencer a taça no nosso grupo.

 

Como é a relação entre o Pedro e o seu copiloto? Como é que vocês trabalham em equipa durante as corridas?

Acima de tudo não falo só da minha ligação com o Tiago que é o meu navegador, mas sim a ligação que é preciso um piloto ter com um navegador, porque há que haver mesmo uma relação de amizade, uma relação de muita confiança entre os dois porque acima de tudo, é um desporto de riscos e se qualquer coisa corre mal temos árvores e casas à nossa volta e pode correr mal. Tem que haver mesmo uma relação de amizade e de muita confiança dentro do carro para que tudo corra bem, é isso que eu penso.

Eu não consigo imaginar fazer ralis com alguém que eu não conheço, porque das coisas que me dá gozo é estar ali a competir e a lutar por uma vitória com um amigo ao meu lado. Estarmos os dois num trabalho de equipa, a puxarmo-nos os dois para o mesmo lado.

Desde que faço ralis com o Tiago tenho evoluído bastante, acho que eu melhorei como piloto muito graças ao Tiago pelas coisas que ele diz, a maneira como trabalha e também a motivação que ele me dá, evoluí bastante com ele como piloto e a relação que eu tenho é de uma grande amizade e espero estar muitos anos a competir ao lado dele.

 

Quais são as lições mais importantes que aprendeu ao longo da sua carreira como competidor de rally?

Não é só característico do rally, mas acho que das maiores lições que levei é que nem tudo corre como nós queremos e podemos levar isso para a nossa vida pessoal e profissional. Quando pensamos que já está praticamente garantido tiram-nos o tapete debaixo dos pés e para tudo existe uma grande tristeza de chegarmos a um ponto em que pensamos que a vitória já está no “bolso” e perdemos esse triunfo, portanto a maior lição que eu tive no rally é mesmo o facto de nós nunca podermos desistir. 

Depois de batermos na última temporada do rally de 2018, vencemos o rally seguinte. Em 2022, aconteceu exatamente a mesma coisa, na primeira prova do ano de 2022 que foi o rally da Bairrada batemos em Vagos, na última classificativa e estávamos à frente do rally, íamos para a nossa primeira vitória à geral e desistimos porque batemos. No rally seguinte que foi em Alvaiázere ganhamos a geral, portanto a lição que eu levo dos ralis é mesmo não desistir independentemente se há coisas que não correm como nós queremos.

Eu acho que estes acidentes que eu tive, deram-me mais força para continuar e ganhar, acredito que tudo acontece por uma razão e quando as coisas não correm bem temos que aceitar, virar a página e lutar pelo próximo desafio.