Padaria Nossa Senhora das Candeias cria broa de Santiago

A Padaria Nossa Senhora das Candeias criou a broa de Santiago, um pastel idealizado em honra aos peregrinos que diariamente atravessam a freguesia a caminho de Santiago de Compostela e de Fátima.
Pedro Trindade, o criador deste bolo, recebeu o Jornal da Mealhada na padaria dos seus pais, onde é funcionário. A broa de Santiago foi apresentada em fevereiro, na BTL (Bolsa de Turismo de Lisboa), e o Pedro e a padaria tiveram um mês para desenvolver a broa.
Qual é a história da padaria?
A história da padaria começou com trabalho dos meus pais, que de porta em porta vendiam pão, fizeram esse trabalho durante alguns anos, até que decidiram construir esta padaria de raiz para estabelecerem-se por conta própria.
Os meus pais compravam o pão, e vendiam-no. O meu pai começou a trabalhar de noite, trazia o pão e revendia-o. Começou por ter uma venda ambulante, ia buscar à antiga Briosa e fazia uma revenda de pães e pastéis, foi a primeira pessoa a fazer esse serviço aos domingos. Fez esse serviço durante cerca de 8/ 10 anos. Há 17 anos que temos esta padaria, e que eles trabalham por conta própria.
O Pedro é o responsável pela padaria?
Não sou responsável, sou funcionário, como filho funcionário acabo por querer algo mais e aceitar desafios.
Que formação tem?
Tirei formação, no centro de Formação da Pedrulha. Tirei o ACCP, que era obrigatório, em padaria e pastelaria.
Tirei, também, umas horas de cafetaria na com a Delta, não sei fazer muito, mas sei fazer um café Macchiato, apareceram cá italianos que me lançam às vezes o desafio de fazer esta bebida típica italiana.
Como surgiu a ideia de criar um bolo especialmente para os peregrinos?
A ideia inicial partiu de um desafio da Câmara Municipal da Mealhada. Pela primeira vez, nós participámos nas 4 Maravilhas da Mesa da Mealhada, onde fomos medalhados pela qualidade da distinção do pão. Como já trabalho com os peregrinos há cerca de 12 anos, a CMM lançou o desafio de criar um doce conventual para poder apresentar na BTL.
Consegui chegar a uma receita e criar um doce, que foi apresentado na BTL. Pelo que sei, nós, a nível de planificação no concelho da Mealhada, fomos os primeiros a estar representados na BTL, que é a maior feira de gastronomia que existe no país.
E num mês conseguiu desenvolver um bolo de raiz?
Tive algumas ajudas, mas foi um processo. Primeiro foi pensado, e tentou-se enquadrar com os peregrinos, a mistura de ingredientes que existe no bolo foi mesmo para simbolizar a diversidade de culturas que nós recebemos aqui de peregrinos.
O Caminho de Santiago e o Caminho de Fátima a pé passam mesmo à porta da padaria?
Sim, os dois.
E a ideia dos peregrinos foi para os dois ou era mais para Santiago?
Foi mais para os de Santiago, que são os peregrinos que recebemos mais.
Neste momento ainda não estamos nos números antes da COVID-19, mas para o ano talvez já vá estar muito próximos desses números. Antes tínhamos cerca de 30 a 40 pessoas diárias, ainda oscilam, mas está a ter um bom crescimento.
Nós sabemos que os emigrantes vêm mais em agosto, nota-se um fluxo maior em dezembro e na Páscoa, por exemplo. Relativamente aos peregrinos, qual é que é a altura com mais afluência?
Depende, mas normalmente o maior número de peregrinos passam entre março e maio. Depois, no início de junho e julho, em agosto abranda. Depois há outra vez um aumento em setembro, outubro e novembro. Na altura do Natal é raro passar, mas não quer dizer que não passe. Ali em dezembro e janeiro, são uns meses mais parados a nível de peregrinos.
Quais são os ingredientes chave ou elementos distintivos da broa dos peregrinos?
Os ingredientes que eu acho que lhe dão uma frescura e um adocicado diferentes são o limão e o coco. O limão dá-lhe uma frescura e o coco dá-lhe um doce mais natural. Como não tem adição de açúcar, tem o coco para lhe dar esse doce.
Quais desafios que enfrentou ao desenvolver esse novo bolo?
Foi mais o que deveria utilizar, foi a ideia de conseguir conciliar com o ser para o peregrino. Mas tem sido muito bem aceite, houve peregrinos que já passaram, porque já ouviram falar.
Existe noutras partes do caminho um bolo especialmente dedicado aos peregrinos?
Não, só mesmo aqui. Só eu é que estou a fazer e só eu é que estou a vender.
Já teve algum feedback dos peregrinos?
Sim, até tenho pelo menos uma ou duas críticas tenho na página do Google a falar bem do doce.
Além dos peregrinos, a broa é popular entre os outros clientes?
Sim, eu normalmente amasso dois quilos de farinha por semana e praticamente vende-se sempre. Há pessoas que levam grandes quantidades. Vende-se bem, mas lá está, é tudo muito recente, tem de se dar tempo ao tempo.
Já há ideias de por as broinhas juntamente com as Caves Messias, que já tive o gosto de poder falar com a Dra. Margarida para poder desenvolver um tipo de parceria com ela e ter também à venda no posto de turismo da Mealhada, mas são ideias que têm de ser construídas e desenvolvidas.
Existe alguma história interessante ou inspiradora por trás da criação desse bolo?
Não, eu penso que não, acho que tem mesmo haver com tudo aquilo que os peregrinos trazem, com a diversidade de pessoas, de línguas, de culturas, de aprendizagens. Eu foquei-me um pouco nisso, as pessoas têm hábitos alimentares diferentes dos nossos, por exemplo as pessoas aqui pedem sandes de tudo, isso será um projeto de um futuro próximo, fazer sandes com nomes de países, pois os hábitos alimentares são diferentes.
Qual é a altura do dia em que podemos encontrar mais peregrinos aqui?
Depende da hora de passagem que normalmente é perto da manhã, ou hora de almoço, porque tem a ver com as escalas que eles praticam, com os voos, dormidas, horários, rotinas que têm. Eles fazem x quilómetros por dia não é como em Fátima que fazem imensos quilómetros num só dia para lá chegar.
Às vezes passam de tarde, mas é raro. Também há aqueles que ficam à tarde, almoçam e deixam-se estar porque têm intenção de ficar na Mealhada a dormir.
O fluxo de peregrinos é grande? Existe algum constrangimento nisso ou é só benefícios?
É só benefícios. Não só pelo que nós vendemos, mas pela bagagem de cultura, enriquece-nos como pessoas. Há imensas histórias de peregrinos que eles partilham, umas mais bonitas, umas menos bonitas, apanhamos de tudo e é fantástico. Eu falo por mim, eu adoro os peregrinos da parte asiática, japoneses, coreanos, tailandeses. Acho que a maneira deles agirem, as maneiras deles de serem totalmente diferentes de nós europeus. É muito bom conviver com essas pessoas, que são pessoas diferentes e isso enriquece-nos completamente.
Nós podemos ter um mundo aqui, na Mealhada, no nosso local de trabalho, sem sair daqui, sem pagar para viajar, para conhecer as culturas. Podemos conhecê-las aqui tão perto de nós, acho que só traz benefícios e acho que cada vez mais devia-se apontar nisso. Penso que as ideias que existem são nesse sentido e penso que têm pernas para andar e que as pessoas que têm o poder de decidir isso, que cumpram com aquilo que está falado.
Existem para já, alguns produtos ou iniciativas relacionadas com os peregrinos?
Sim, da minha parte sim. Vou lançar menus com os nossos artigos, fazer um menu de sandes, porque tentei pegar em tudo aquilo que eles me pedem e criar um menu de sandes.
Servem refeições na padaria?
Servimos sandes… eu, por exemplo, faço pizzas, porque fiz amizade com um peregrino que passou aqui há cerca de 8 anos que é napolitano. Neste momento até está a trabalhar em França, ficamos amigos e nunca perdemos o contacto. Ensinou-me a fazer pizzas, a base de ingredientes, do que é a verdadeira pizza napolitana, foi através dele que sei o que é fazer pizzas. Se não fosse ele, muito provavelmente não estaria a fazer pizzas como faço.
Parecem ser uma padaria inovadora e preocupada com a qualidade?
Têm havido vários trabalhos desenvolvidos da nossa parte, vão surgindo estas oportunidades que nós temos de agarrar, porque temos visto que os negócios tradicionais têm mais dificuldade em por as coisas no mercado devido às grandes superfícies.
Participaram na BTL e em que mais iniciativas têm participado?
Participamos na Feira de Artesanato e Gastronomia da Mealhada, que ajudou a divulgar os nossos produtos, as pessoas da Mealhada gostaram muito.
Como é que as pessoas podem entrar em contacto convosco?
Através do contacto 913 576 394, do endereço de e-mail padarianscandeias2@gmail.com, ou das nossas redes sociais https://www.facebook.com/padarianscandeias ou https://www.instagram.com/padarianscandeias/.
Os horários de trabalho quais são?
Estamos abertos de terça-feira a domingo das 7h30 às 21h. Na segunda-feira estamos encerrados.