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Celebrações da Páscoa vividas no concelho da Mealhada


tags: Mealhada, Páscoa Categorias: Entrevista quarta, 27 março 2024

A celebração da ressurreição de Jesus Cristo é vivida e sentida por todos os cristãos de forma muito intensa. A Páscoa, época desta comemoração, ainda é em algumas regiões festejada com a visita da cruz com a imagem do crucifixo a casa das pessoas.

O Jornal da Mealhada foi perceber como é que o dia de Páscoa se vive e sente de uma forma geral no concelho da Mealhada numa conversa com António Neves e Alexandre Cruz que fazem parte dos grupos do compasso que levam a cruz ao lar dos lusenses.

Numa breve passagem pela história Alexandre Cruz lembrou que, por volta de 1970, o seu pai já fazia parte do compasso, a “visita era exclusivamente feita com um padre, no domingo e na segunda, apenas com uma cruz e caso fosse necessário ainda se fazia a visita pascal no domingo de Pascoela”. Passados poucos anos começaram a sair duas cruzes para que a visita fosse feita no domingo e na segunda de Páscoa, onde já não está presente o padre, mas o juiz que transporta a cruz.

 

Há quanto tempo fazem parte do compasso?

António Neves – Já estou vinculado à Igreja há 20 anos. Fui Juiz da igreja, em 2003, e, por força do destino e de Deus, nunca mais saí de cá.

Alexandre Cruz – Quando era mais novo fiz parte do compasso, fui acólito, durante cerca de 6 anos, e fui secretário paroquial durante 30 anos.

Como se preparam para este dia?

António Neves - Preparo-me para andar 2 dias, domingo e segunda, mas com enorme alegria.

Alexandre Cruz – Previamente é feita uma reunião como todos os que fazem parte do compasso, onde decidimos quem são as equipas, para falarmos dos carros de apoio, e outros assuntos que nos permitam poupar tempo, já que a Visita Pascal não pode ser feita a correr. Nas casas, há cumprimentos e pequenas conversas com as pessoas que nos esperam alegremente.

Como é feita a preparação da cruz?

António Neves - A cruz é preparada apenas com uma orquídea, algo muito simples. Para além de ser muito bem limpa.

Porque é que esta tradição se mantem tão viva?

António Neves - Tenho acompanhado sempre a visita pascal, ocupando o lugar do padre, enquanto juiz, e é muito gratificante, pois começamos numa casa onde estão cerca de 20 ou 30 pessoas para receber a cruz e, na última casa, já estão à nossa espera cerca de 100 pessoas. A união da população sente-se muito nestes dias e fazem da Visita Pascal uma festa linda. A Visita Pascal intensificou-se ainda mais com a agregação da paróquia do Luso à Unidade Pastoral da Mealhada.

Como é que as pessoas se preparam e arrumam a casa para receber o compasso?

António Neves - As pessoas arrumam de forma mais esmerada a casa e limpam as ruas.

 

 

Que tradições enraizadas existem aqui no dia da visita Pascal?

António Neves – A Visita Pascal teve sempre várias tradições, uma das quais o uso da laranja em cima da mesa com uma moeda. Na Páscoa, a laranja significa a prosperidade da função do trabalho agrário, recompensado da terra fecundada. É um símbolo do trabalhador, que quando se descasca este fruto, tem a possibilidade de dividir vários gomos, o que significa partilha. Infelizmente essa tradição também se poderá perder porque já não se vê em muitas casas.

Também se usa o Alecrim como decoração e simbolismo?

António Neves - Sim, alecrim, rosmaninho e ramos de oliveira.

Quando entram na casa das pessoas como são recebidos?

António Neves - As pessoas oferecem comida e bebida, têm a mesa posta para nos receber. Somos bem acolhidos.

Que frase proferem em casa dos mealhadenses quando levam a cruz?

António Neves – Temos uma pagela onde consta o que proferimos na visita, porém a frase tradicional é “Cristo Ressuscitou! Aleluia! Aleluia!”.

Sentem que para as pessoas este dia tem um significado especial?

António Neves - Sim. A Visita Pascal, nesta paróquia, foi e é muito enraizada, feita com muita fé, vontade, devoção, amor e carinho.

Antes do Covid beijava-se a cruz, por uma questão de saúde isso acabou, que tipo de veneração é feita atualmente?

António Neves - As pessoas fazem uma vénia, ou tocam com a mão. Contudo, por vontade própria, há pessoas que beijam a cruz. Nós mantemos uma higienização adequada, o juiz que leva a cruz tem um pano para limpar, assim as pessoas não têm receio de a beijar. 

Há alguma dificuldade na realização desta visita?

António Neves - A cruz de prata pesa cerca de 7Kg e o juiz que a transporta o dia todo fica cansado. Mas eles sentem-se bem.

Sentem que há mais turistas nesta época?

Sim, o programa da Semana Santa atraí muitos turistas.