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"Testemunhas de um Amor maior…!"


tags: Mealhada Categorias: Opinião terça, 16 abril 2024

Conheci-os em 2019, quando vieram ter comigo para o batismo da sua filha, a Lara. Depois, em 2020, veio a Pandemia e perdemos a ligação, como aconteceu, um pouco, com tantos ou com todos. Nesse tempo de distanciamento físico, de máscaras e confinamentos, ela teve de viver uma das «batalhas» mais importantes da sua vida, como mulher, como mãe, como esposa, como filha…; teve lutar contra o cancro da mama.

Saberá Deus o que terão sido aqueles meses de tratamentos e de sintomas, entre as restrições e condicionamentos da época. A família, sempre presente, lutou com ela e por ela. Mas, venceu!

Em finais do mês de Fevereiro passado, informaram-me que a Daniela estava de novo com a «maldita doença», agora, já noutras partes do organismo. Aos 35 anos, tinha de voltar a travar uma nova «batalha», talvez mais dura.

Como o ser padre me obriga, também e sobretudo, a carregar a cruz daqueles que sofrem, procurei o seu contacto e liguei-lhe. Combinámos encontrarmo-nos e conversar. Assim aconteceu, passados dois dias.

Veio com a mãe. Ambas tinham um rosto terno e doce, mas um olhar que não escondia a dor e o medo que a Daniela estava e virá a passar. O seu falar foi sereno, sem receio de dizer as palavras certas, mesmo que duras, sobre o que tinha. Apesar disso, em toda a conversa, o seu sorriso deu uma harmonia de paz, que me encantou!

A certa altura, pergunta-me que tinha de fazer para casar pela Igreja. Mais encantado fiquei! Apesar de todo o «pesadelo» que está a viver, ainda sonhava, ainda emergia nela a fé e o amor. Combinámos preparar tudo com a brevidade possível.

Encontrámo-nos mais vezes, agora com o Luís. Grande homem! Impressionou-me as primeiras palavras que me disse, diante dela, num tom emocionado e cheio de convicção e paixão:

- Faço tudo o que ela quiser!

Lá preparámos as papeladas, entre muitos diálogos. Nisto foi crescendo uma proximidade, entre mim e eles, que me tornou mais cúmplice, de e no coração, do que estão a viver. Fui sentindo mais intenso o «odor» do amor que os une e o sentido que tinha esse mesmo amor ser abençoado e confirmado por Deus. Durante estas semanas, ela foi fazendo aqueles tratamentos duros e, quando se sentia com forças, foi sempre trabalhar. Aliás, continua!

Chegou o dia do casamento. Foi no sábado passado, na igreja da Mealhada! Estavam só presentes os familiares diretos! Pouco mais de uma dúzia de pessoas encheu de emoção, de fé e de intensidade aquele templo amplo.

Ela proclamou a primeira leitura. Estremeci quando ela leu:Grava-me como um selo no teu coração, como um selo no teu braço, porque o amor é forte como a morte…”. Penso que o Luís, bloqueado por tantas emoções, não conseguiu logo perceber a profundidade daquelas palavras que Deus inspirou ao autor do Livro do Cântico dos Cânticos.

Depois, foi ele a fazer a segunda leitura. Mais uma vez estremeci, quando o ouço ler: “Não vos inquieteis com coisa alguma; mas em todas as circunstâncias, apresentai os vossos pedidos diante de Deus…”. Sim! O que São Paulo disse aos Filipenses tinha tudo a ver com aquele momento e com a situação que estão a viver. No fundo, meio nervosos e emocionado, o Luís disse à Daniela, à Lara e à família mais próxima, com as palavras do Apóstolo, o mistério que estávamos a celebrar, o Amor de Deus jamais se separa do ser humano e deixa de estar com ele, seja qual for a sua realidade.

No final, controlando as emoções, percebi que a Daniela, ali estava, mostrando a fortaleza de quem ama, apesar da debilidade que a doença lhe provoca no corpo. Com o seu sorriso, manifestava a esperança que o amor vence sempre e, naquela celebração, ficou provado. O Amor de Deus robustece o amor humano e confirma que aquilo que dá sentido e significado ao viver de qualquer pessoa é a sua capacidade de amar.

É natural sentirmo-nos desamparados quando estas ou outras doenças se instalam, em nós, mas fica a certeza de que nunca estaremos sós. Deus está, amorosamente, sempre presente na nossa dor e dá-nos o «sabor» de um Amor maior, para que nunca nos falte o sentido da vida e a esperança, seja qual for o fim ao qual a doença nos leve.

Já agora, é importante recordar que a doença não é um sinal de que Deus nos abandonou ou deixou de nos amar. No meio da dor e do sofrimento, Deus é sempre fiel no Seu amor. Nada, nem mesmo a doença mais severa, pode separar-nos do amor de Deus. Paulo, segundo as Escrituras Sagradas, afirma-o de forma clara: “Pois eu tenho a certeza de que nada pode separar-nos do amor de Deus: nem a morte, nem a vida; nem os anjos, nem outras autoridades ou poderes celestiais nem o presente, nem o futuro.” Obrigado, Daniela, Luís e Lara, por manifestarem a força do Amor que nenhuma doença consegue esconder.