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João Pega
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Diária

"Abril"


Categorias: Opinião terça, 16 abril 2024

 

   O que não falta em Portugal  são mentirosos, a nossa literatura está cheia de embustes, as próprias cinco quinas assentam no milagre de Ourique que não existiu, a nossa independência, nas Cortes de Lamego que nunca aconteceram, a saudade está ligada ao Dom Sebastião que um dia há de voltar…em Portugal não parece mal virar a casaca nem votar num partido e mudar para outro e prometer o que se sabe  perfeitamente que nunca se pode fazer. Em Portugal náo há a cultura da verdade, é triste, mas é assim… (José Hermano Saraiva), RTP.

  As esperanças do pós abril goraram-se entre o cavaquismo, o socratismo, o autoritarismo de partidos políticos e o paradoxo duma justiça repartida entre o poder judicial independente e a decisão política que matou a liberdade, produziu duas justiças, protegeu os aparelhos partidários e abriu portas ao branqueamento da corrupção instituída, com políticos impunes perante um povo vitima e pagador. Deste lamaçal, orientado pelos PSD, PS e CDS, os partidos do poder, surge um Portugal de hoje nos piores lugares do concerto da Europa, da corrupção no mundo, um estado mais caótico que ao tempo da ditadura. Os sonhos foram muitos, as promessas foram mais, mas o diluvio de interesses vários que inundaram o todo, deixaram apenas de fora o trato partidário e clientelas intocáveis, forjando máquinas de sacar dinheiro aos bolsos dos portugueses para comprar palacetes, patrimónios, contas escondidas em offshores. A história que hoje vem á tona de água, engloba vergonhosos atos contra o povo português em processos arquivados, perdoados, deturpados, esquecidos. Falamos das razias nos fundos comunitários, habilidades de grupos político empresariais, dos milhões sumidos na banca pagos pelo povo português, das contratações diretas desde os órgãos do Estado á incipiência autárquica do descaramento geral. Apanhados pela justiça, poucos são investigados e constituídos réus, aliviados por capas de interesses privados e empresas de advogados bem pagos. Fácil lembrar entre outros os processos do universo Espirito Santo, o Bes/Ges, o Banif, o BCP, os CTT, a Cerâmica Campos e o Aveiro Conexion, os Submarinos, o Sirespe, os desvarios dos fundos sociais europeus ou o poderoso rei socrático á espera da prescrição, recursos após recursos, numa justiça que condena os pobres  e iliba os ricos , a mesma justiça a quem os políticos retiram poderes e  não dão meios suficientes para que a investigação seja feita. Por isso o presunçoso senhor Costa, um primeiro-ministro acabado de deixar o país num lamaçal, hoje simples cidadão como qualquer um de nós, tem o direito de requerer ao Estado ser ouvido urgentemente, como se fosse rei e senhor deste rincão de terra portuguesa. Este é o abril que chega aos nossos dias, obliterado por falta de democracia e transparência, pela incompetência de várias governações, pela fraude, pela corrupção, pela miserabilidade, pela venda ao estrangeiro das melhores empresas, pelos negócios sujos da TAP, pelo privilégio de mais um aeroporto para Lisboa onde se gastaram e gastarão milhões de euros pagos pelo resto do país. Pelo saque da CGD, pelo complot Espírito Santo, a dado momento donos disto tudo, com prejuízos incalculáveis pagos pelos portugueses á banca, às elites palradoras, a uma média burguesia, formada pela classe política que se auto sustenta e remunera, como caciques intocáveis à margem da verdade, transparência e imunidade, vão elegendo um seu monarca ideal, um fazedor de promessas.. Ninguém se pode queixar de ir para a direita ou para a esquerda, devem examinar a consciência própria, face aos resultados eleitorais destes tempos e eventualmente de um próximo futuro. Cinquenta anos de pseudodemocracia, indicam aos portugueses o rumo a seguir, podendo o país pobre e endividado, agradecer à Europa os rios de dinheiro enviado para que tudo fique na mesma, para além dos bolsos de muitos que ficam por julgar. Vergonhosamente pedintes duma Europa onde não passamos da cepa torta.