Foto-concerto “Som” transforma pedreira de Ançã em palco de arte e património
A histórica pedreira de João Leitão, em Ançã, ganhou nova vida ao acolher o foto-concerto “Som”, uma iniciativa integrada no Ciclo de Teatro e Artes Performativas “Mimesis”, promovido pela Universidade de Coimbra, no passado sábado, 17 de maio. O evento assinalou de forma simbólica a recente distinção do Calcário de Ançã como Pedra Património Mundial da UNESCO, num espetáculo onde imagem, som e memória se fundiram numa experiência sensorial e coletiva.
Com a imponente fachada de pedra como pano de fundo, este espetáculo audiovisual interativo projetou luz, música e poesia sobre as camadas da paisagem e da história local. “Som” foi organizado pela Academia de Música de Ançã e pelo projeto artístico Cabra Cor de Rosa, em colaboração com várias entidades locais e regionais, incluindo o Município de Cantanhede, a Junta de Freguesia de Ançã, a Associação fotografARTE e o CineClub Bairrada, com o apoio da Reitoria da Universidade de Coimbra.
O vice-presidente da Câmara Municipal de Cantanhede, Pedro Cardoso, responsável pelo pelouro da Cultura, marcou presença no evento e destacou “a criatividade singular” do foto-concerto, sublinhando “a importância de valorizar e projetar a cultura local em cenários naturais e identitários”. Na ocasião, fez ainda um agradecimento especial a Conceição Sá e às suas irmãs, pela cedência da pedreira que pertenceu ao pai, permitindo transformar este espaço em palco artístico.
O espetáculo iniciou-se com uma sequência de fotografias, cada uma acompanhada por sonoplastia e música original interpretada ao vivo por Vasco Espinhal Otero, criando uma ambiência única e personalizada. Seguiu-se uma viagem simbólica e audiovisual, que percorreu geografias e memórias, desde Coimbra até à costa gandaresa, com destaque para os caminhos-de-ferro, os elétricos antigos e o imaginário da ferrovia.
“Som” contou com a participação de Hélder Santos, Dulce Cruz, Vasco Espinhal Otero, Sylvain Barreto e João Almeida, que interpretaram e declamaram textos poéticos de autores como Grau, de Coimbra, e Carlos Oliveira, da Gândara, interligando literatura e performance. Um dos momentos mais emotivos da noite aconteceu quando habitantes de Ançã subiram ao palco para interpretar temas tradicionais da região, enquanto eram projetadas imagens da vila, num tributo sentido à herança cultural local.
A noite encerrou com a performance “Gândara Fiction”, que combinou montagens fotográficas de Vasco Espinhal Otero com música de Sylvain Barreto. O momento culminou com uma improvisação coletiva, reunindo todos os músicos em palco, num final vibrante onde se cruzaram imagem, som e expressão performativa.