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Crónica de uma instabilidade anunciada


tags: Gil Lourenço Ferreira Categorias: Opinião sexta, 23 maio 2025

Se a tendência não é global, garanto ao leitor que é comum entre as democracias parlamentares ocidentais - sobretudo naquelas com frágil tradição de estabilidade política. Já longe do propósito nobre do bem-comum, os partidos da oposição, quando confrontados com governos minoritários, vivem num estado de espera ativa. Não por eleições, mas por sondagens. É o gráfico de popularidade, e não o calendário constitucional, que dita o compasso da ação política.

Quando o partido no poder começa a resvalar nas intenções de voto, instala-se o clima ideal para a chamada “intervenção assassina”: uma ofensiva - coordenada ou espontânea - que conjuga ataque parlamentar, pressão mediática e desgaste simbólico, com o objetivo último de precipitar a queda do executivo. Esse mecanismo, tão natural quanto cínico, alimenta uma governação imediatista. E é fácil perceber o porquê: reformas estruturais exigem paciência, paciência exige tempo e o tempo exige estabilidade. Se o tempo escasseia, governa-se para o “agora”: subsídios dirigidos aos mais ruidosos, promessas pomposas, leis apressadas para silenciar queixas momentâneas.

Em Portugal, esta tese - sólida, tantas vezes confirmada e quase intuitiva - colapsou estrondosamente em pelo menos dois momentos recentes. O primeiro ocorreu há pouco mais de um ano: uma maioria absoluta, sinónimo clássico de estabilidade, foi interrompida a meio da legislatura. E não por impopularidade crescente ou desgaste parlamentar - apesar de ser essa a tese dominante nas redes sociais -, mas por ação do Ministério Público. Um Governo que passara dois anos a preparar medidas de fundo viu-se, de um momento para o outro, esvaziado de legitimidade ao ritmo de buscas, de fugas de informação e de manchetes. A Justiça, erguida a ator político, substituiu o eleitorado...

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