O avião da Raynair, o shutle, o comboio, o metro, o barco e finalmente o porticciolo de Nervi donde galgo a Via Gianelle, o Corso Europa e aporto ao lar de Niccolini. Não é propriamente o meu lar, mas é um lar a alta palaccina. É um apêndice, um sítio, uma janela aberta sobre o mar Ligure, sobre o futuro e um telhado abrigado do frio e de calor. Em muitos sentidos. Há sempre uma sensação de conforto quando se chega a um lugar onde descansar o espírito e o corpo. Larga-se a âncora duma viagem através de pedaços de Europa num mundo que se aproxima entre si, onde se misturam os seres comuns, matéria em sentido cívico, as pessoas. Num mundo individualizado como qualquer império, deusificado a um poder impiedoso de súbditos, silenciados por um voto. Hoje há um deus supremo, a riqueza, que tem um filho primogénito, o dinheiro. A globalidade é o espaço da sua banca de negócios que abrange a totalidade dos seres numa feira franca que legitima as transacções e injustiças humanas, do pão à fome e do supérfluo à crucificação.
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Artigo de Ferraz da Silva publicado na edição impressa de 16 de abril.