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O segredo da educação está no coração…


tags: Opinião, Padre Rodolfo Leite Categorias: Opinião quarta, 06 fevereiro 2019

Tem oito filhos, todos eles já criados. Foi uma vida dura, mas que dá muito orgulho àquele homem que já não disfarça os muitos anos vividos. Não chegou a fazer a quarta classe, mas não se importa, pois, o campo também foi uma boa «escola», que ensinava muitos a «ganhar o pão», com a ajuda de Deus. Também ganhou algum, nos hotéis do Luso, no tempo da fartura, mas, segundo me disse, agora aquilo já não é o que foi!

Com os filhos, já foi diferente. Obrigou-os a estudar e deu-lhes tudo o que podia, para que fossem alguém. Hoje, está feliz. São honestos, trabalham, estão bem casados e já todos têm filhos.

No meio da conversa, perto da sua casa, onde ambos tentávamos apanhar um pouco de sol, perguntei-lhe:

- Criou-os todos aqui na terra? É que deve ser complicado tomar conta de tantas crianças!? É preciso «ter olho»!?

Antes de me responder, sorriu-se com a minha ingenuidade. Depois, disse-me

- A gente educou-os como era possível! Mas sempre com muito coração. Sabe, senhor Padre, não bastava só ver por onde eles andavam, era preciso que eles sentissem e soubessem o bem que eu e a mãe lhes queríamos. Isso deu-lhes responsabilidade. Não que não lhes tivesse batido e ralhado, mas eles sabiam acima de tudo que nós gostávamos deles e fazíamos muitos sacrifícios para os educar.

Escutava todas aquelas palavras com gosto e digeria a sabedoria que as mesmas revelavam. Ele continuou:

- Eles eram muito reguilas, mas no fundo todos muito bons. Hoje sinto vaidade em todos eles, porque não se esquecem da gente e, como nós fizemos, agora eles também estão a cumprir a missão deles, de tentarem ser bons pais!

Interrompi-o para lhe perguntar se continuavam a viver a fé. Ele, com um ar de vencedor, contestou:

- Senhor Padre, alguns até são «ministros da comunhão» e ajudam muito os padres das igrejas de onde vivem, nas catequeses. Os netos, já fizeram todos «a Crisma», mas parece-me que não estão a seguir as pegadas dos pais e dos avós. Vamos ver! Mas será uma tristeza se não o fizerem.

Tentei consolá-lo, dizendo-lhe que agora era assim, mas senti que não valeu de nada.

Entretanto, já o estava a acompanhar de regresso à sua casa e mesmo à chegada, como que a despedir-se, disse-me:

- Senhor Padre, olhe não me arrependo do que fiz pelos meus filhos. Foi o que pude e com todo o coração. O resto ficou e está nas mãos de Deus. Sinto um grande sossego por isso. Ele não falha, pois não?!

Respondi-lhe afirmativamente, com um aceno de cabeça!

Já mesmo à porta da sua casa, reparei que a chaminé fumegava. Perguntei-lhe se já estava a queimar lenha. Ele respondeu-me:

- É logo de manhã que a mulher a acende. As casas, nesta época, estão geladas e a idade já não nos deixa aguentar o frio.

Aproveitei a ocasião para o provocar, questionando-o se gastava muita lenha de figueira. Ele sorriu-se e respondeu:

- Não é grande coisa! Até pode aquecer, mas ficamos maldispostos da cabeça!

Contei-lhe, então, que tinha sido no «grupo bíblico» de Antes que me tinham falado dessa lenha e a razão do mal que ela provoca, pois Judas, segundo eles, o discípulo que vendeu Jesus por dinheiro, antes da Paixão, se tinha enforcado, mais tarde, numa figueira. Ele volta a sorrir e disse-me:

- Se calhar é por isso. Mas sabe, tudo o que tem a ver com a falta de amor, faz mal às pessoas.

Nisto, reparei que o sol já estava encoberto por algumas nuvens e fazia-se sentir um incómodo vento frio. Era altura certa para nos despedirmos.

Regressando a casa, dei por mim a pensar na conversa com aquele homem. Não fui capaz de não a relacionar com a nossa forma de vivermos e de educarmos as gerações mais novas. Sem dúvida que o significativo nas nossas vidas, não podem ser somente os sonhos que queremos realizar e as metas que queremos alcançar, para nós e para os filhos. Precisamos sobretudo de «ter coração», para que fazendo o que podemos, Deus possa realizar o que falta, neles.

P. Rodolfo Leite