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O ribombar dos trovões na Mealhada


tags: Opinião, Virgílio Breda Categorias: Opinião quarta, 06 fevereiro 2019

Acordei cedo com o ribombar de um trovão, seguido de uma bátega de água de curta duração, mas que quanto a mim veio muito a propósito, porque tinha semeado uns nabos que estavam com dificuldade em nascer. Com esta água vinda do céu, que todos nós sabemos ser melhores para as plantas, fazendo-as crescer a olhos vistos, talvez os meus nabos se salvem.

As trovoadas também ajudam porque as descargas elétricas dão origem à formação do ozono (gás), que dissolvido na água da chuva também é benéfico para as plantas.

Para mim, que sempre gostei de apreciar o espetáculo das trovoadas, trouxe-me à lembrança as enormes a que assisti na Vacariça, na casa onde os meus pais, professores primários, e toda a família residia. Recordo a minha avó, que sempre que trovejava (e lá quando isso acontecia eram grandes trovoadas) ia a correr à cozinha e trazia numa telha brasas acesas e em cima alecrim seco, que tinha sido benzido na Missa de Ramos e guardado para aquelas ocasiões.

Enquanto fumegava a casa ia desfiando umas quantas rezas que só ela sabia lá em casa, mas todas as mulheres da aldeia, da idade dela, também as sabiam. Não fixei as rezas porque o que mais interessava era assistir aos relâmpagos e o desenrolar das grandes trovoadas, acompanhadas de grandes bátegas de água e raios, que atravessavam o horizonte de lés a lés. Não tinha medo, a minha mãe é que me obrigava a fugir de perto das janelas, sobretudo das que tinham ferros nas varandas. A minha avó tanto fumegava e rezava que as trovoadas, ainda que a custo, lá se iam afastando.

Os raios trazem algum risco e às vezes atuam de modo incrível. Como médico assisti um paciente que apresentava uma cicatriz antiga de queimadura enorme, em todo o lado esquerdo do tórax e perna esquerda. Disse-me que tinha sido provocada por uma faísca que fulminou um companheiro de trabalho que estava sentado lado a lado no mesmo banco, numa casita de campo, abrigados da chuva.

O companheiro fulminado nem um pio deu e não se observava uma beliscadura sequer enquanto ele ficou vivo, mas ficou com uma lesão cutânea enorme que demorou a curar.

Agora as trovoadas são pequenas, mas ainda dão que pensar como é que se acumula tanta energia nas nuvens, que num momento descarregam. Só Deus sabe e nós imaginamos mal.