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AS FESTAS DO MAGUSTO, DE TODOS OS SANTOS E DO “HALLOWEEN”. SEU SIGNIFICADO E ANTECEDENTES E INFLUÊNCIA NELAS EXERCIDA PELA CALENDARIZAÇÃO DO TEMPO. (PARTE VI)


tags: Opinião, Nuno Salgado Categorias: Opinião quarta, 06 fevereiro 2019

Aos 16 anos de idade, sendo já catecúmeno, ou seja, aquele que se prepara e instrui para o batismo, entrou para o exército, onde atingiu o posto de oficial da Guarda Imperial. Abandonou a vida castrense e, como discípulo de Santo Hilário, recebeu ordens sacras de frade em 354.

Em 361 fundou um mosteiro em Ligugé (Poitiers, França), sendo ordenado bispo de Tours em 371, e foi o maior propagador da fé na Gália, hoje França.

Faleceu em 397 e, durante muitos séculos, foi um dos santos mais populares da Europa, cuja memória litúrgica é comemorada a 11 de novembro, data em que foi enterrado em Tours, França.

Esta lenda de S. Martinho nasceu, segundo algumas versões, quando algumas árvores floriram durante o trajeto em que o seu corpo foi levado de Candes, onde faleceu, até Tours, onde seria sepultado.

Seja como for, e conforme reza a lenda, todos os anos, nos primeiros dias de novembro, desponta sempre um Sol de Estio para recordar o bondoso gesto de S. Martinho e, por esses dias, o céu e a terra aquecem, de modo a que mais nenhum ser humano passe o tremendo frio que assolou o mendigo dos tempos lendários.

Esta é a altura dos magustos, cuja tradição, como vimos, estaria primitivamente relacionada com o culto dos mortos e com as celebrações de Todos os Santos e Fiéis Defuntos.

É também, e sobretudo, a festa vinícola, ocasião em que se prova o vinho novo, se atestam as pipas, e que, noutras eras, foi celebrada em muitos sítios com afamados cortejo de bêbados, galhofando com as procissões religiosas, numa versão báquica, onde nas adegas se bebe livremente em burlescas fraternidades, numa associação de vinho e castanhas. O São Martinho é, ainda, ensejo da matança do porco.

O seu dia coincide com a período do ano em que se realça o culto dos antepassados e com a época do calendário rural em que acabam os trabalhos agrícolas e se principia o fruir das colheitas, nomeadamente do vinho e dos frutos. É uma das festas tradicionais do mundo rural em que se consagra um dos produtos mais emblemáticos da produção local – o vinho. É o período em que os agricultores abrem as vasilhas do vinho para se certificarem da sua adequada fermentação. Num mundo em que a atividade agrícola está permanentemente associada à festa, o São Martinho é ocasião para a confraternização em volta do vinho – que garante o consumo do ano – e da castanha, o fruto da época, que foi introduzido na Europa há mais de três mil anos e que foi a base da alimentação do povo antes do consumo do milho ou da introdução da batata e agora se começa a consumir cozida ou, principalmente, assada. E nada se casa melhor com um bom copo de vinho do que umas quentes e estaladiças castanhas assadas.

O mundo rural dos nossos dias já não é o mesmo de antigamente. As atividades tradicionais foram-se transformando graças às novas técnicas e formas de produção. Muita da alegria e da festa que envolviam essas atividades desapareceram. Sobretudo, o cunho coletivo que envolvia as populações das aldeias desapareceu. E é pena que assim seja.