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Filipe Henriques* entrevista… Guilherme Castela


Categorias: Região segunda, 25 janeiro 2016

O doutor Guilherme Castela é um dos Oftalmologistas do HMM, é o responsável pela Secção de Órbita e Oculoplástica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e é o coordenador do Grupo Português de Órbita e Oculoplastica da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia. É autor de inúmeros trabalhos científicos, sendo uma referência nacional e internacional nesta área. Apesar de a sua atividade se estender à Oftalmologia Pediátrica, hoje abordaremos fundamentalmente as questões ligadas à Oculoplástica.

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FH - O que quer dizer "Oculoplástica"?

GC - Esta subespecialidade dentro da Oftalmologia dedica-se ao estudo e tratamento dos problemas orbitários (a órbita é a cavidade do esqueleto da face em forma de pirâmide onde estão inseridos o olho, músculos, nervos, vasos e o aparelho lacrimal), das pálpebras e das vias lacrimais, sendo a cirurgia aplicada com fins funcionais e estéticos. Na verdade, é o Oftalmologista que reúne um conjunto de características e conhecimentos, que o tornam mais completo para a resolução destes problemas. Só o domínio da anatomia e fisiologia do globo ocular, pálpebras e órbita, permitem uma escolha adequada do melhor tratamento médico e cirúrgico para estas doenças.

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FH - O que se pode fazer para prevenir o envelhecimento da pele à volta dos olhos?

GC - O rejuvenescimento da região periorbitária e face é cada vez mais procurado pelos nossos pacientes, nomeadamente os procedimentos menos invasivos que envolvem técnicas não cirúrgicas. A toxina botulínica e os preenchimentos faciais são os procedimentos estéticos mais realizados no mundo ocidental, sendo muitas vezes complementares de outros tratamentos cirúrgicos tais como a blefaroplastia.

Apesar de ser uma área partilhada com outras especialidades médicas o cirurgião oculoplástico dispõe de todas as condições para poder oferecer as melhores soluções estéticas para a região periorbitária e face, com todas as garantias médicas e oftalmológicas.

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FH - O que é o Botox e para que serve?

GC - A toxina botulínica popularmente conhecida como botox é uma toxina produzida por uma bactéria chamada Clostridium botulinum. Essa bactéria causa uma doença chamada botulismo, mas a toxina botulínica industrializada é purificada e usada em doses que não causam a doença. A toxina botulínica para uso estéestá indicada para suavizar as rugas e linhas de expressão do rosto. Entre elas estão as rugas da testa, a glabela (espaço entre as sobrancelhas) e os pés de galinha, (rugas que se formam na região periocular). A principal motivação para este tratamento estético é o incômodo gerado pelas rugas. Em comparação com cremes para rugas e linhas de expressão, a toxina botulínica costuma trazer resultados mais visíveis. No entanto, a sua utilização deve ser sempre indicada por um médico e depende de uma avaliação médica individualizada.

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FH - Existe algum efeito indesejável do uso de Botox?

GC - Desde que realizado por um profissional médico devidamente treinado e experiente nesses tratamentos, a aplicação de toxina botulínica pode ser considerado um tratamento seguro. Alguma dor no momento da aplicação pode acontecer, mas o uso de cremes anestésicos no local reduz francamente este efeito. Pequenos hematomas transitórios também podem ocorrer, mas que cedem em cinco-sete dias.

A toxina botulínica tal como todos os medicamentos, é contraindicada em pessoas que apresentam alergia a qualquer componente da sua formulação. Mulheres grávidas ou em amamentação, portadores de doenças neuromusculares, imunológicas e coagulopatias (ou ainda pessoas que utilizem anticoagulantes, aminoglicosídeos e drogas que interfiram na transmissão neuromuscular) não devem ser tratados com esta substância.

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FH - A partir de que idade o Botox podes ser feito?

GC - Recomenda-se que a toxina botulínica não seja feita antes dos vinte e cinco anos de idade. De qualquer forma nessas idades as pessoas não têm, nem se preocupam com as rugas, sendo normalmente a partir dos quarenta anos que, principalmente as mulheres, mas também os homens, recorrem a este tipo de tratamentos.

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FH - Quando alguém "lacrimeja" permanentemente quer dizer que tem que ser operado?

GC - Os olhos lacrimejantes podem ter dois tipos de causas. Pode haver uma produção excessiva de lágrimas em reação a uma doença ocular mais ou menos grave, ou então uma drenagem insuficiente por obstrução dos canais de drenagem da lágrima para o nariz

Como exemplos de produção excessiva reativa temos a conjuntivite, a alergia ocular, um corpo estranho, contato com substâncias químicas e até situações mais graves como infeções intraoculares e uveítes. Após o tratamento destas situações o lacrimejo dos olhos passa. O olho seco por mais estranho que pareça também pode ser uma causa de lacrimejo constante.

Na maioria das vezes quando o doente apresenta um lacrimejo constante e não há sinais de doença ocular estamos perante uma obstrução dos canais de drenagem da lágrima. Este tipo de obstrução é mais frequente com o avançar da idade e resulta do estreitamento progressivo dos canais até que encerram por completo fazendo com que a lágrima escorra pela cara abaixo. O tratamento destas situações é cirúrgico com a realização de uma nova via de drenagem para o nariz

Esta cirurgia (dacriocistorinostomai) consiste em criar uma comunicação entre o saco lacrimal e a cavidade nasal para promover novamente a drenagem da lágrima.

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FH - Qual a taxa de eficácia da cirurgia para "desobstrução " da via lacrimal?

GC - A taxa de eficácia da cirurgia de “desobstrução” dos canais de drenagem da lágrima também chamada de dacriocistorinostomia é muito elevada, superior a 90%. No pós-operatório imediato o doente fica com um pequeno tubo de silicone para manter a via lacrimal nova aberta enquanto se dá a cicatrização. Esse tubo é retirado passado um mês no consultório sem ser necessário uma nova cirurgia

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FH - Quando se deve intervencionar uma "pálpebra descaída"?

GC - A ptose palpebral superior vulgarmente conhecida como “pálpebra descaída”, é causada por uma queda da pálpebra que vai cobrir o olho. Para além de um componente funcional (cobrir o olho impossibilitando a visão) que nem sempre está presente também tem um componente estético causando uma assimetria facial principalmente nas formas unilaterais. Esta patologia pode ser congénita (nascer com a criança) ou adquirida ao longo da vida (ocorre com o envelhecimento e flacidez dos tecidos)

Para compensar esse problema as pessoas inclinam a cabeça para trás para tentar ver melhor ou levantam as sobrancelhas. Dependendo da severidade do problema pode ocorrer dificuldades na visão. Nas crianças esta situação pode ser mais grave pois podem desenvolver ambliopia ou olho preguiçoso. Isto ocorre quando a pálpebra “cai” o suficiente de modo a interferir com a capacidade de visão do olho afetado ou quando o peso da pálpebra sobre a superfície ocular causa uma irregularidade da córnea originando uma visão distorcida (astigmatismo).

O diagnóstico de ptose palpebral deve ser sempre efetuado pelo médico oftalmologista que vai examinar cuidadosamente as pálpebras, efetuando medições detalhadas da sua altura.

O tratamento da ptose ou “pálpebra descaída” é feito sempre através de cirurgia. A operação permite levantar a pálpebra caída colocando-a na posição normal. A idade é um importante fator a considerar no tratamento. Na criança a ptose pode provocar danos irreversíveis na visão (ambliopia). No adulto pode haver interferência com a visão, mais ou menos grave, no entanto, para além dos problemas visuais, a correção da “pálpebra caída” pode e deve ser efetuada de modo a melhorar a aparência estética dos doentes, melhorando assim a sua autoestima.

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*Médico oftalmologista - Coordenador da Oftalmologia no Hospital da Misericórdia da Mealhada (Na imagem está inserido dentro do logótipo do JM)