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Crónicas Locais - 263 - Paul Bergamin


tags: Paul Bergamin, Opinião, Ferraz da Silva Categorias: Opinião quarta, 03 abril 2019

Filho de Blasius Bergamin e de Ursula Bergamin, Paul Bergamin nasceu em 1848 em Sacholeis, Suíça, e veio para Portugal nas últimas décadas de oitocentos para se lançar na indústria hoteleira, a sua área profissional. Em 1879 casa na Ericeira com Adelaide Maria Albuquerque.

Diretor, chefe de cozinha, pasteleiro, Bergamin foi um precursor da hotelaria em Portugal. Depois de passar pelo Hotel Bragança e Grande Hotel Central, ambos em Lisboa, muda-se para o entroncamento ferroviário da Pampilhosa do Botão em 1882, pouco antes da inauguração da linha férrea da Beira Alta. Primeiro com o bufete da estação, depois com o restaurante, em colaboração com o alemão Conrad Wissmann.

Em 1886 constrói em frente da estação a Albergaria, Hotel Bergamin ou Chalé Suíço, o nome por que foi mais conhecido. Durante o seu espaço de funcionamento foi uma unidade de referência na região centro, como ponto de apoio aos comboios na sua ligação a Paris através do sud-express que ali fazia paragem. Dali se apanhavam trens ou caleches para as termas, substituídos por automóveis após a motorização dos meios de transporte. A 3 de Agosto de 1882 fez-se a inauguração da linha com a presença da família real que é recebida na estação da Figueira da Foz. O Rei D. Luís, a Rainha Maria Pia e os príncipes Carlos e Afonso almoçam na Casa do Paço um serviço encomendado a Bergamin. No regresso de Vilar Formoso almoçam no restaurante da Pampilhosa, donde seguem viagem para o Porto.

Em 1891 Bergamin. “le chef,” estende a sua atividade ao Bussaco explorando o Hotel da Mata por compra da concessão a Joaquim Nogueira. Este primeiro alojamento no Bussaco alcança grande notoriedade, mercê do trabalho de Bergamin e no estio é difícil encontrar quartos vagos, mesmo utilizando algumas celas do velho mosteiro.

A construção do Palace Hotel, iniciada a partir de 1888, por razões financeiras e orçamentais arrastou-se no tempo e alguns acabamentos vieram a fazer parte do processo de concessão, cujo concurso decorreu em 1907. Diz um jornal da época a 25 de agosto deste ano, que está a concurso o Grande Hotel da Mata, agora sim o Palace, mas ainda com zonas em obras e outras por acabar.

A concessão é atribuída a Bergamin e assinado o termo a 14 de novembro do mesmo ano. A ele se deve, pois, como mais tarde a Alexandre Almeida, alguns acabamentos, arranjos e decorações que permitiram a finalização do edifício.

A direção de Paul Bergamin, que colocou no mapa da insipiente hotelaria nacional o Hotel da Mata, teve o mesmo papel em relação ao Grande Hotel do Bussaco, não só em relação a Portugal como à Europa. Cedo foi considerado um dos bons hotéis do continente e cedo recebeu clientela de várias partes do globo, continuando hoje um pilar destacado no mundo do turismo global.

Em 1916, com 68 anos de idade, Bergamin considera-se cansado e convida Alexandre Almeida para sócio, com a cláusula de se manter em serviço no hotel, juntamente com a mulher, até ao fim da vida.

Com o falecimento da mulher em 1918, a doença apoderou-se do empresário que veio a falecer depois de algumas vicissitudes a 12 de Maio de 1921. Almeida cumpria o estabelecido no contrato entre os dois. Paul Bergamin faleceu no Palace Hotel e ficou no cemitério do Luso no jazigo da família de Alexandre Almeida.

Da herança está o “Chalé Suíço”, na Pampilhosa, um património em ruína, como muitos neste município. Mas deixou algo mais importante enquanto homem e empresário, foi mestre de hotelaria e de turismo, esteve nos primórdios da atividade e nunca saberemos dizer se sem ele o Hotel do Bussaco seria o mesmo que é hoje. Sabemos sim que foi fundamental numa fase menos boa do processo de construção, durante a fase terminal das obras. Hoje, quem governa no nosso pequeno mundo não tem honra nem respeito pelo quanto nos ensinou. Muito concretamente, a ser homens. A sua obra e memória merecia muito mais.

 

Luso, Março, 2019                                    aguasdoluso.blogs.sapo.pt