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Se me saísse um Euromilhões, o que faria com tanto dinheiro?


tags: Opinião, Euromilhões, Virgílio Brêda Categorias: Opinião quarta, 03 abril 2019

Parece uma pergunta disparatada, porque à partida toda a gente pensa que sabe o que fazer ao dinheiro, que é fácil de gastar.

Quando tinha vinte e poucos anos de idade, se me saísse uma “taluda” com essas dimensões era capaz de desistir do estudo, que na altura estava a entusiasmar-me. Comprava um BMW, dos mais caros, adquiria uma boa casa, ajudava a família e pensava em casar. Depois era gastar o dinheiro que não custou a ganhar, em passeios, festas com amigos, etc.

Se o juízo me abandonasse de todo, era capaz de investir num negócio sustentável, mas que renderia pouco, porque não tinha sorte com os negócios. Mas não saiu, nem sairá nunca, porque não jogo e sempre pensei ganhar a vida à custa do trabalho.

Habituaram-me a trabalhar no campo desde muito novo, por ser dos filhos o mais resistente, o mais saudável, daí o ter também sido o mais sacrificado.

Durante as férias e nos fins de semana ia tomar conta do pessoal, por exemplo na cave das vinhas, em que levava o vinho para beberem, e acompanhava-os, também, a cavar com uma enxada de pontas, ficando no final do dia com as mãos cheias de bolhas. Ninguém pedia para que cavasse, eu é que gostava.

Dos trabalhadores que cavavam lado a lado comigo, quase todos faleceram, resta apenas um vivo, de quem sou amigo; é o Manuel Bairrada, natural da Vacariça e que reside na Lameira de São Geraldo.

Nada disto impediu que tirasse a licenciatura em Medicina, sem um único chumbo, o que não é fácil.

Adorei ser médico e trabalhar em zonas rurais de Angola, onde era o único médico, tendo enfrentado um surto de cólera em Calulo. Aí salvei da morte antecipada muitos pacientes que entraram no hospital em estado de coma. Já referi isto em livros.

Ganhava relativamente pouco, não dava para enriquecer, mas também não era o que mais me interessava. O que fiz deu-me grande satisfação.

Imagine-se agora ter-me saído uma “taluda”, até a família ficava ofuscada com a fartura de dinheiro e nada disto teria acontecido; assim habituaram-se todos a trabalhar e a poupar.

Graças a Deus todos os filhos estão bem e até uma neta voltou a Timor, em missão de ensino e onde a adoram.

Assim, se alguém me fizesse agora a mesma pergunta com que iniciei este texto: “O que faria se me saísse o euromilhões?” Diria: não sei, tenho de pensar.