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Fachada da Fábrica das Devesas em risco de demolição


tags: Pampilhosa, Fábrica, Demolição Categorias: Região quarta, 17 abril 2019

A fachada nascente da Fábrica das Devesas, ou “Fábrica Velha”, como é conhecida entre a população, corre risco de ser demolida. O motivo que está por detrás desta opção, avalizada e recomendada pelas Infraestruturas de Portugal, segundo referiu ao nosso jornal Rui Marqueiro, presidente da Câmara Municipal da Mealhada, é a constituição do perigo para a população e de obstrução da linha de comboio ou mesmo a ocorrência de um acidente na Vila da Pampilhosa.

O perigo constituído pelas frágeis infraestruturas da Fábrica das Devesas é já conhecido “há algum tempo”, disse ao nosso jornal Rosalina Nogueira, presidente da Junta de Freguesia da Pampilhosa. Porém, o alerta da perigosidade tornou-se “mais pertinente depois do “Leslie” e das ventanias do último mês”, garantiu-nos a autarca.

Nessa medida, e para prevenir um mal maior, a presidente da Junta de Freguesia da Pampilhosa confirmou ao Jornal da Mealhada ter mantido contacto com a Câmara Municipal para dar conta da perigosidade crescente que o edifício constitui para a população, assumindo: “o imóvel é da Câmara e compete à Junta apenas alertar”.

“O imóvel é da Câmara e compete à Junta apenas alertar”, Rosalina Nogueira, presidente da Junta de Freguesia da Pampilhosa

Consciente de que a tomada de uma medida sobre a matéria estaria dependente da uma resolução entre as Infraestruturas de Portugal (IP) e a Câmara Municipal, Rosalina Nogueira apenas afirmou: “fui contactada faz hoje oito dias, sobre a tomada de decisão da demolição”. Um caminho que foi apontado à autarca como o único a seguir, sob o compromisso de que “a fachada principal ficaria”.

A intenção voltou a ser reiterada por Rui Marqueiro, que afirmou ao nosso jornal: “vamos tentar manter as duas fachadas”. Porém, garante: “não vou gastar cinco milhões para manter as fachadas, por questões de sustentabilidade, sob pena de deixar de fazer outras coisas prioritárias”, dando o exemplo da renovação das redes de água no concelho. “Nós não estamos perante nenhum edifício classificado”, acrescentou, explicando que a decisão da demolição “depende dos técnicos” e que “não se trata só de resolver o problema”.

“Tivemos que preparar a intervenção com as Infraestruturas de Portugal”, um processo que Rui Marqueiro diz estar a ser conduzido por Arminda Martins, vereadora municipal com o pelouro da gestão das obras públicas, e que “teve inicio há uns 10 dias” antes da data em que estalou a polémica na praça pública.

O autarca referiu que “no local esteve pelo menos um funcionário da. I.P em permanência”. Para o início deste procedimento, Rui Marqueiro avança que “a autarquia pagou à volta de 1915 euros”, no entanto, afirma: “se eles não considerassem relevante não o faziam”, aliás, “indicaram-nos que devemos fazer a demolição rapidamente”.

“Indicaram-nos que devemos fazer a demolição rapidamente”, Rui Marqueiro, presidente da Câmara Municipal da Mealhada

As opiniões contra a operação de demolição divergem, nomeadamente nas redes sociais. Exemplo disso é a página de Facebook do GEDEPA (Grupo Etnográfico de Defesa do Património e Ambiente da Região da Pampilhosa). Numa publicação datada de 11 de abril, escreveram: “olhamos com repúdio para a devastação que fica e para a falta de sensibilidade em preservar o que é dos nossos Avós”. No dia seguinte, na mesma página, o GEDEPA, depois de visitar o local, refere: “apesar de lamentarmos a destruição de algumas peças, colocamos sempre a segurança das pessoas primeiro”, acrescentando que “a única possibilidade será, na nossa opinião, a demolição imediata daquelas paredes, se não houver mais alternativas”.

Para quem é natural da Pampilhosa o tema é sensível, mas mais ainda para quem faz da História profissão, tal como é o caso da nossa colaboradora Maria Alegria Marques, que lança algumas questões à edilidade no texto de opinião desta edição: “não saberá, a CMM, o valor – material e simbólico – da antiga Fábrica das Devesas, vulgo, Fábrica Velha e da sua fachada nascente? E não pretende(u) tirar partido do que é seu?!”. A historiadora vai mais além e formula outra questão:” que foi feito da ideia acerca do projeto de musealização do local, que sabemos ter sido falado?!”

Em entrevista ao nosso jornal, Rui Marqueiro, presidente da Câmara Municipal da Mealhada, acabou por responder à historiadora e lembrou que a compra da Fábrica das Devesas foi feita ao tempo do anterior executivo, sob a promessa de construir um espaço museológico, porém, esse não é o compromisso do executivo que dirige: “o que eu assumo é a construção de um parque de estacionamento”.

“O que eu assumo é a construção de um parque de estacionamento”, Rui Marqueiro

O parque de estacionamento está pensado para o momento em que avançar a empreitada na estação de comboios, algo que o autarca refere estar bem encaminhado: “o projeto já está pronto e já nos indicaram o ponto preciso de execução das obras”. “O processo está num caminho de não retorno”, entende o autarca, dizendo que “o Governo tem 2,3 mil milhões de euros para a ferrovia”, por isso espera que “parte do valor venha para a Pampilhosa”.

Hugo Silva, líder da Coligação “Juntos pelo Concelho da Mealhada” também quis marcar uma posição quanto a esta situação. O vereador da oposição diz lamentar o estado de degradação da Fábrica das Devesas, dizendo que a alternativa à demolição “era preservar no momento correto”. Hugo Silva atribui ainda a culpa da situação em que está o edificado à gestão orçamental do executivo: “é mais barato destruir do que abdicar do orçamento da FESTAME”.

À declaração de Hugo Silva, o presidente da Câmara Municipal da Mealhada respondeu: “já sei que o Dr. Hugo Silva se fosse presidente da Câmara acabaria com a FESTAME e também sei que teria feito tudo e duplicado a população”, ironizou.

Coligação pede reunião extraordinária do executivo

Sobre esta temática, Hugo Silva disse ainda ao nosso jornal que “os vereadores da oposição não tiveram nenhuma informação, oficial ou oficiosa, sobre o estado de conservação do edifício”. Declaração que Rui Marqueiro adjetivou de falsa: “informei-os de que a demolição da fábrica aconteceria por razões de segurança”. O autarca afirmou que “não tiveram mais informação porque não era preciso dar mais” e acrescenta: “ao presidente da Câmara Municipal compete apenas dar informações gerais e verdadeiras”.

Apesar de considerar uma reunião de câmara extraordinária sobre este assunto “irrelevante”, Rui Marqueiro, a pedido dos vereadores da coligação, acabou por agendá-la. Esta decorrerá amanhã e terá como ponto único a discussão a demolição da fachada da Fábrica das Devesas.

 

Fotografia: Pormenor Fábrica das Devesas

Créditos Fotográficos: Daniel Vieira (GEDEPA)