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Autarquia mealhadense desafia a população a “Pensar Global, Agir Local”


tags: Município, Resíduos, Programa Categorias: Região quarta, 17 abril 2019

“Pensar Global, Agir Local” é o nome do novo programa de sensibilização e valorização de resíduos urbanos do município da Mealhada, apresentado no passado dia 4 de abril no Espaço Inovação. Implementado desde essa data, o programa tem como objetivo melhorar a gestão de resíduos no concelho e para o efeito a ERSUC (Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos e Urbanos em Aveiro e Coimbra), a Câmara Municipal da Mealhada e a ACIBA (Associação Comercial e Industrial da Bairrada e Aguieira) unem-se, através da assinatura de uma manifestação de interesse, para levar a cabo um conjunto de ações dirigidas às crianças, empresas e população em geral.

O programa “Pensar Global, Agir Local” nasce da candidatura do município da Mealhada ao concurso POSEUR-11-2017-21 (Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos), através do qual se pretendem promover ações de educação e sensibilização, tendo em vista a valorização dos resíduos urbanos.

De acordo com Guilherme Duarte, vice-presidente da Câmara Municipal da Mealhada, “este programa vem dar continuidade ao trabalho que o município tem feito pela valorização do ambiente”. O autarca referiu ainda, no âmbito da apresentação do projeto, que esta é apenas uma de várias ações que a autarquia tem levado a cabo, com o intuito de “sensibilizar e capacitar a população na área da educação ambiental”, realçando que este programa é “muito dinâmico e conduzirá, certamente, a uma melhor gestão dos resíduos no concelho”.

“Este programa vem dar continuidade ao trabalho que o município tem feito pela valorização do ambiente”, Guilherme Duarte, vice-presidente da Câmara Municipal da Mealhada

Ciente de que “há muito a fazer e muito por onde melhorar”, Maria da Conceição Vieira, engenheira experiente na consultadoria ambiental, referiu que os “resíduos devem ser vistos como um recurso potencialmente útil e um recurso reutilizável”. Nessa linha, salientou que, “em 2017, em todo o país, foram acumuladas 4.745.207 toneladas de resíduos, das quais 57% vão para aterro”, números que obrigam a criar estratégias para contribuir para a respetiva diminuição, segundo referiu.

A técnica responsável pela apresentação do programa “Pensar Global, Agir Local”, a implementar na Mealhada, lembrou ainda que uma grande percentagem de resíduos advém do desperdício alimentar, “por ano são desperdiçados cerca de 132 kg de comida”, uma situação que refere poder alterar-se “fazendo escolhas alimentares corretas, verificando os prazos dos produtos, utilizando as quantidades certas e necessárias e fazendo uma compostagem caseira”. O método de compostagem prevê que as sobras dos vegetais, por exemplo, sejam lançadas à terra, funcionando, inclusivamente como fertilizante natural.

Maria da Conceição Vieira fez menção à necessidade de se começar a pensar de acordo com a lógica da economia circular, que “é oposta à economia praticada atualmente (produz, utiliza e deita fora). Ela baseia-se na recuperação e na reutilização, aplicada a todas as etapas do produto”, explica.

Para “maximizar a eficiência e a eficácia da gestão de resíduos”, Maria da Conceição Vieira enunciou as ações que o Município da Mealhada, em parceria com a ERSUC, irá levar a cabo no município, cuja máxima é “envolver toda a comunidade na problemática”.

Programa de sensibilização ambiental pretende “envolver toda a comunidade”

A técnica referiu que vão ser feitas 16 sessões de apresentação do programa, a realizar nas escolas do concelho, no Centro de Interpretação Ambiental e na ERSUC, focadas nos temas da “reciclagem de resíduos, do desperdício alimentar, da compostagem, reutilização e economia circular”.

Dirigido ao público mais jovem, Maria da Conceição Vieira anunciou que está a ser preparado um conjunto de recursos: “estamos a criar uma mascote de resíduos, para explorar a ideia do resíduo como fonte de valor; um vídeo promocional; vamos apresentar uma peça de marionetas que vai andar pelos centros escolares do Luso, Mealhada, Anadia, Aveiro e Coimbra; estamos a desenvolver um jogo gigante de tabuleiro, através do qual se pretende testar os conhecimentos dos mais novos sobre a temática; estamos também a desenvolver um jogo para os dispositivos móveis”.

Segundo referiu a técnica responsável pela apresentação do projeto de sensibilização ambiental, haverá também uma grande aposta ao nível do marketing: “vão ser distribuídos calendários de parede e de secretária que contêm uma mensagem por mês com uma boa prática e em todo o concelho vão estar outdoors com as mensagens – Reutilize, Recicle, Repare, Zero Resíduos e Stop”.

Outra aposta deste programa reside da implementação do projeto “Mealhada Porta-a-Porta”, tal como referiu Maria da Conceição Vieira. Através desta ação proceder-se-á à recolha seletiva de resíduos junto dos espaços comerciais do concelho. Para o efeito “serão colocados 4000 contentores novos e será adquirida uma viatura de recolha de resíduos”. A este projeto soma-se o PAYT - Pay as you throw – (Paga pelo que deita fora). Mediante esta iniciativa, o produtor de resíduos será beneficiado se produzir o menor número de lixo indiferenciado, ou seja, a tarifa de resíduos que atualmente aparece associada ao consumo da água, passa a estar associada ao volume de resíduos indiferenciados, “pagando apenas pelo peso/volume de resíduos feitos”.

Município da Mealhada quer “eliminar a 100% as más práticas”

Através destas ações, que visam “eliminar a 100% as más práticas, tendo em vista aumentar a quantidade e qualidade da reciclagem e a melhoria dos comportamentos ao nível do desperdício alimentar, promovendo a compostagem doméstica”, pretende-se “prestar um contributo à ERSUC no que respeita às metas que têm a cumprir”, de acordo com Maria da Conceição Vieira.

Neuza Monteiro, responsável pela comunicação e sensibilização ambiental da ERSUC, explicou, no âmbito da sessão de apresentação do programa “Pensar Global, Agir Local”, “em 2018 conseguimos reciclar 36 kg de resíduos por habitante, quando a meta era 39 kg. Em 2020 temos que dar o salto para os 42 kg”.

A representante da ERSUC nesta sessão referiu ainda ser de extrema importância “que cada vez mais municípios formem parcerias com a ERSUC, para chegarmos a todas as pessoas, de todas as maneiras possíveis, e assim alcançarmos os objetivos”.

Segundo referiu Neuza Monteiro, a ERSUC “cobre 36 municípios e serve 923 mil habitantes”, dos quais refere que “30% não reciclam”, por entenderem que “não ganham nada com isso”. “As crianças percebem muito melhor a importância de reciclar do que os adultos, são eles que colocam mais entraves”, afirmou a responsável pela comunicação e sensibilização ambiental da estação de tratamento de resíduos.

“As crianças percebem muito melhor a importância de reciclar do que os adultos, são eles que colocam mais entraves”, Neuza Monteiro, ERSUC

Mentora de vários projetos de sensibilização, entre os quais se destacam o “Comércio a Reciclar”, o Recycle BinGo, aplicação para telemóveis que funciona em ligação com ecopontos georreferenciados, dando vales de desconto em lojas aderentes aos utilizadores que fizerem a separação do lixo, e os EcoEventos, a que a FESTAME também se vai associar este ano, a ERSUC explica que a reciclagem traz vários benefícios, nomeadamente: “criação de novos postos de trabalho, contributo para o desenvolvimento sustentável, aumento de receitas com a comercialização de produtos recicláveis e a poupança de recursos, como a energia e a água”.

No município de Penacova o projeto de educação e valorização dos resíduos urbanos terminou e Nélia Oliveira, em representação da divisão do ambiente da Câmara Municipal, fez um balanço positivo da ação: “no total angariamos 983 kg de vidro, 360 kg de papel e 317 kg de plástico e metal”. Nélia Oliveira recordou que a realização de ações de sensibilização junto das escolas incidiu sobretudo na separação do lixo e na prevenção ao desperdício alimentar, nomeadamente através da conceção de uma pequena horta, para o exercício da compostagem.

“Percorremos todo o território e todas as pessoas tiveram contacto com a campanha”, enfatizou Nélia Oliveira, “distribuímos um guia de compostagem, calendários, mudámos a imagem dos contentores, criámos uma imagem para cada um, como por exemplo – “Se dá para reciclar não coloque no contentor”. Nélia Oliveira destacou ainda o sucesso da recolha porta-a-porta em Sazes do Lorvão: “a recolha porta-a-porta triplicou em relação à recolha feita nos ecopontos”.

“A recolha porta-a-porta triplicou em relação à recolha feita nos ecopontos”, Nélia Oliveira, membro da divisão do ambiente da Câmara Municipal de Penacova

Dirigida às empresas, Conceição Carvalho, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) enunciou algumas oportunidades de financiamento para as Pequenas e Médias Empresas (PME), neste âmbito.

A responsável pelas áreas do Conhecimento, Inovação e Competitividade do Programa Operacional da Região Centro começou por referir “que os consumidores querem produtos sustentáveis”, no entanto isso só será viável na medida em que se assegure a “sustentabilidade social, económica e ambiental”. Para o efeito, Conceição Carvalho referiu estarem disponíveis “1500 projetos, com apoios da FEDER”. Um dos projetos disponíveis, segundo referiu a representante da CCDRC, visa “apoiar as empresas que queiram aplicar a economia circular à respetiva estrutura empresarial”.

Entre ações de formação e apoios financeiros para a execução de determinados projetos ambientais nas empresas, Conceição Carvalho sublinha que “a sustentabilidade é uma responsabilidade de todos. Todos temos que dar passos para que a qualidade de vida nos municípios e de cada um melhore”, concluiu.

 

Fotografia: Guilherme Duarte, vice-presidente da Câmara Municipal da Mealhada, na apresentação do projeto “Pensar Global, Agir Local”