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Bussaco, caminho de celtas e outros que por aí passaram


tags: Mealhada, História, Alice Godinho Rodrigues Categorias: Opinião quarta, 17 abril 2019

O estudo antropológico que aqui trazemos tem como objeto a população existente na região protegida do Bussaco, em tempos muito remotos.

Na primeira metade do século VI a.C. chegaram à Península Ibérica vários povos, entre os quais os Celtas. Segundo Heródoto, escritor grego, era-lhes dado o nome de “Keltoi”, no entanto passaram a ser conhecidos por célticos.

Vinham do centro da Europa, utilizando instrumentos de ferro, opondo-se assim aos povos autóctones, originários da Cultura do Bronze.

De acordo com Aviceno, escritor romano, na sua obra “Orla marítima”, estes povos colocaram-se ao longo da costa até ao rio Vouga. Ei-los entre nós! Ao carácter agrário dos povos existentes juntaram-se novos termos e o psiquismo do povo autóctone tornou-se diferente.

Com origem indo-europeia, estes povos invasores tinham por companhia a Natureza. Esta fornecia-lhes abrigo e alimento. Louvavam as pedras e as montanhas, campo e florestas, rios e oceanos.

A voz da floresta é uma parte mítica entre o mundo dos deuses e o dos homens, entrelaçado com a veneração que os Celtas tinham pelas árvores: o carvalho estava ligado à sabedoria – pelo Bussaco temos a Aldeia do Carvalho; o freixo estava ligado à proteção – a Pampilhosa está sob a proteção de um lendário freixo.

Ao analisarmos a religião celta embarcamos num mundo diferente e mágico… Os seus sacerdotes eram os Druidas. Não formavam uma casta. Eram recrutados em todas as classes e submetidos a um duro noviciado de 20 anos. Conheciam o Direito, a Medicina, a Astrologia, o que lhes dava uma certa importância e os rodeava de um tenebroso mistério. O seu culto religioso incluía a oração, o canto religioso, os votos e o sacrifício. As fontes para o seu estudo são escassas. Utilizavam-se as arqueológicas e epigráficas, mas em pequeno número.

Temos notícia, no entanto, de que permaneceram entre o Mondego e o Vouga. Era o cobre do Baixo Vouga e o estanho que os atraía. A nossa região era fértil. Abundavam as vinhas, embora em estado selvagem desde épocas remotas. O vinho era um produto muito apreciado, a ser utilizado pelos Celtas como um ato de sociabilidade, em torno do qual se formavam laços de familiaridade e de amizade. Não era consumido puro, mas misturado com água e essências aromáticas.

Ao longo dos tempos, em contacto com outros povos que vão chegando – OS TÚRDULOS – a sua religião vai sofrendo transformações: os únicos seres sacrificados aos deuses eram: a cabra, a ovelha, os touros, o cavalo e o homem. O rito funerário era a cremação. Abriam as fossas no interior das habitações, forravam-nas com pedras e aí guardavam as cinzas dos defuntos. No fundo tinham a intenção de perpetuar a presença dos falecidos dentro do espaço doméstico do agregado familiar.

A célula base da sociedade era a família. Estabeleciam também a diferença entre o espaço cósmico, o MIGARD, a parte cultivada, centro do Mundo e o Mundo dos Monstros e Gigantes, os inimigos do Homem, o chamado UTGARD.

Era um mundo de contradições: a aplicar as forças ocultas, exorcizar as potências malignas, a escapar à cólera divina. Começa a florescer a estirpe do “Homines Novi”.