Diretor: 
João Pega
Periodicidade: 
Diária

390 anos de Convento de Santa Cruz do Bussaco são comemorados pelos fundadores


Categorias: Região quarta, 08 agosto 2018

No dia 7 de agosto o Convento de Santa Cruz do Bussaco celebrou 390 anos de história, na presença do Frei Joaquim Teixeira, em representação da Ordem dos Carmelitas Descalços, e do Bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, com uma programação que previa uma visita às obras do convento e a plantação de árvores pelos dois convidados.

A Ordem dos Carmelitas Descalços e o Bispado de Coimbra estão intrinsecamente ligadas à fundação do edifício, pelo que, para António Gravato, presidente da Fundação Mata do Bussaco, a presença dos dois representantes era incontornável, “estão aqui os dois principais players para que nós possamos concretizar aquilo que nós queremos, que é pôr este espaço onde ele merece estar”.

Bispo de Coimbra e Carmelita Descalço plantam árvore no Bussaco

Quer D. Virgílio Antunes, quer o Frei Joaquim Teixeira foram convidados a deixar marca na mata que, num passado histórico, ajudaram a construir. D. Virgílio, que já tinha estado na Mata Nacional do Bussaco para plantar uma árvore em fevereiro deste ano, regressou para, agora, com melhores condições meteorológicas, assinalar a sua passagem no local.

Para o Bispo de Coimbra, a Mata Nacional do Bussaco “remete-me para a obra criadora de Deus”, nesse sentido, D. Virgílio refere que “gostaria de ser um pequeno colaborador, um pequeno elo, com uma responsabilidade interior, para dar continuidade, juntamente com todos os homens e mulheres de boa vontade, a este grande projeto criador de Deus”.

O Frei Joaquim Teixeira encara a plantação que fez de uma perspetiva espiritual, associando-a ao trabalho desenvolvido pela Ordem dos Carmelitas Descalços, “uma árvore faz-me lembrar, sempre, o lançar raízes, porque os carmelitas têm muito esta dimensão de serem raiz. Nós temos uma presença muito discreta. Quando falamos em valores como a oração, a espiritualidade, a contemplação, o silêncio, são valores que não dão nas vistas, ou seja, que não se veem. E as raízes de uma árvore têm exatamente esta dimensão, a raiz não se vê, mas é fundamental para que a árvore se possa desenvolver. A espiritualidade do carmelita também é muito escondida, mas depois as obras aparecem noutras instituições da vida da Igreja”.

Carmelitas Descalços são convidados a voltar ao Bussaco “de modo permanente”

Na presença de Porto Monteiro, em representação da Navigator Campany, de Maria Noémia de Almeida Calado, da Fundação do Luso, de algumas figuras políticas locais e dos párocos Rodolfo Leite e Carlos Godinho, Rui Marqueiro, presidente da Câmara da Mealhada, desafiou o Frei Joaquim Teixeira, “queremos convidá-los a voltar de modo permanente”, convite que foi encarado por D. Virgílio como um primeiro passo para a concretização de um sonho, “a vinda de uma pequena comunidade de carmelitas que mantivessem a reflexão, o espaço de oração e esta ligação histórica, não simplesmente pela preservação da história, mas para atualizar a realidade que nós somos e para potenciar a procura da espiritualidade, na perspetiva cristã é, com certeza, um sonho”.

Um sonho que Frei Joaquim Teixeira não descarta, dizendo que “há alguns elementos jovens a entrar e é algo a ponderar, porque nós sempre nos sentimos aqui como se estivéssemos em casa. Apesar de já há 200 anos não estarmos cá, não deixa de haver sempre uma relação afetiva com este lugar, que nos cativa muito e nos seduz”.

António Gravato diz que a promessa da Fundação Mata Nacional do Bussaco “é criar condições” para que a Ordem dos Carmelitas Descalços se possa fixar, algo que já está a ser acautelado com as obras de requalificação do Convento de Santa Cruz.

Obras do Convento de Santa Cruz terminam em março de 2019

Nesta data celebrativa, todos os convidados tiveram oportunidade de fazer uma visita às obras de requalificação do edifício, que estão a ser feitas pela empresa de Augusto Oliveira Ferreira. Carlos Oliveira, chefe de obra, esclareceu os presentes sobre quais as áreas de intervenção no convento e nas capelas, “a nível do convento vamos substituir a cobertura, fazer a picagem de paredes exteriores e interiores, vamos fazer a recuperação dos pavimentos e mudar toda a instalação elétrica. Nas capelas a intervenção passa basicamente pelos mesmos processos: recuperação do exterior, nomeadamente dos embrechados (pedras de pequena dimensão que adornam as paredes), das cantarias, cobertura e pavimentos”. Acrescido a todas as intervenções referidas, Carlos Oliveira indicou que a torre sineira também vai ser intervencionada, “a torre sineira vai ser toda recuperada, vamos fazer a substituição dos sinos e dos respetivos pesos que os fazem tocar”. O chefe da obra adiantou ainda que a data prevista para a conclusão das obras será março de 2019.

Os visitantes da obra ficaram a saber, através de Nuno Silveira, arqueólogo da empresa Palimpsesto, que está a acompanhar a obra, nomeadamente, no processo de picagem das paredes, que com as intervenções feitas, até ao momento, foram descobertos elementos escultóricos, “ao fazermos a picagem das paredes para desentaipar uma porta, apanhámos vários elementos escultóricos Neste momento identificámos três: um Cristo, em terracota, uma Virgem Maria e um S. João Batista em calcário. (…) As imagens estão fragmentadas, mas são recuperáveis”.

As obras do convento estão a prosseguir a bom ritmo e com elas a Fundação Mata do Bussaco pretende, não só, contribuir para que a Ordem dos Carmelitas Descalços regresse, como também preservar o edifício que faz parte integrante da mata que deseja alcançar a distinção de Património Mundial da UNESCO. Rui Marqueiro adiantou ainda que “está a ser terminado um projeto de execução para video-vigilância, durante vinte e quatro horas por dia, na Mata do Bussaco”, de forma a preservar o local que, agora, também se insere como património cultural no cardápio da Mesa da Bairrada ao Mondego, concorrente das 7 Maravilhas à Mesa.

Comemorados os 390 anos do Convento de Santa Cruz e volvidos 200 anos em que não existe ligação religiosa ao local, D. Virgílio Antunes elogia o espaço envolvente, realçando a componente espiritual que se faz sentir, “este lugar do Bussaco com certeza que tem uma dimensão espiritual muitíssimo patente e visível, quase que diria…sente-se”.