Diretor: 
João Pega
Periodicidade: 
Diária

Mata do Bussaco foi “devolvida” à população após 2 meses de encerramento


Categorias: Região quinta, 27 dezembro 2018

A passagem da tempestade “Leslie” ditou o encerramento, por dois meses, da Mata Nacional do Bussaco, para a recuperação dos destroços deixados na noite de 15 de outubro. Com os trabalhos de reabilitação da Mata a chegar ao fim, a floresta nacional foi reaberta ao público no passado dia 20 de dezembro, na presença de Miguel Freitas, Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural.

“Devolvo esta Mata do Bussaco à população”, começou por dizer Miguel Freitas, que garantiu aos visitantes a total segurança na visitação, “aquilo que há é a garantia da total segurança para as pessoas que querem visitar a Mata do Bussaco a partir de hoje (20 de dezembro) ”. Da mesma forma, o Secretário de Estado referiu ainda que “os trabalhos vão continuar”, até porque, conforme esclareceu António Gravato, presidente da Fundação Mata do Bussaco (FMB), “nós não conseguimos, desde logo, afetar os 105 hectares (da Mata) por condicionalismos administrativos e, portanto, trabalhámos em 88 hectares”.

“Devolvo esta Mata do Bussaco à população”, Miguel Freitas, Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural

Assim sendo, a primeira fase da operação “Renascer da Mata Nacional do Bussaco” passou pela Porta das Ameias, pela Fonte Fria, pela zona envolvente à Fundação Mata do Bussaco, pelas Garagens do Palace, pelos Trilhos da Mata, pela Porta das Lapas, pelas Portas de Coimbra, pelas Portas de Sula, pela Cruz Alta, pelo Chalet de Santa Teresa e pelas Estradas da Mata. Na totalidade somaram-se 26 dias úteis de trabalho para fazer a intervenção em 75% da área afetada pela “Leslie”, o que na prática representa o abate de 768 árvores e a retirada de 828 m2 de madeira, o equivalente a “cerca de 14/15 camiões de madeira”, tal como referiu o presidente da FMB.

Vítor Frias, proprietário da Bioflorestal S.A., empresa responsável pela limpeza da Mata, avançou à comunicação social que “era suposto já terem terminado os trabalhos, mas continuarão por mais uma semana”, recordando que uma das partes mais difíceis do trabalho foi das Portas da Rainha até às Portas do Cerpa, “nota-se até pelas clareiras que havia muitos troncos caídos ”, estando também inseridos no mesmo nível de dificuldade os percursos da Forja à Cruz Alta e daqui até às Portas de Coimbra.

Empreitada de reabilitação da Mata focou-se em 5 prioridades

Focados em cinco prioridades, identificadas pelos técnicos da FMB, a empresa de Albergaria-a-Velha desenvolveu trabalho no “corte e desramação de desimpedimento de caminhos, na rechega e transporte de ramagens para o Parque dos Leões, na marcação de árvores para abate e desmontagem, no transporte dos rolos de madeira para estaleiro e cubicagem e na entrada nas Unidades de Paisagem Prioritárias”, tal como afirmou António Gravato. Sobre a intervenção nas Unidades de Paisagem Prioritárias, o presidente da Fundação esclarece que se trata do “Trilho das Árvores Notáveis, que são 6 km, e do Trilho da Via Sacra, que são 3 km”, ambos inseridos em projetos desenvolvidos “com fundos comunitários, que também precisam de avançar para atingir os 100% de execução”, concluiu.

Quando questionado sobre a viabilidade de recuperar a Mata, na totalidade, dos destroços deixados pela “Leslie”, António Gravato considera ser possível e adianta que “nas clareiras que ficaram vão ser, e temos até previsto no Plano de Atividades para 2019, plantadas 16 mil árvores, num total de 22 hectares”. O presidente da FMB reconhece que “foi uma situação diferente, para pior, daquilo que tinha acontecido em 2013 com o ciclone Gong, que afetou só 40% da Mata, sendo que esta tempestade afetou os 100%”, no entanto, apesar de ser uma grande adversidade, António Gravato entende-a como “uma oportunidade que nós vamos criar para conseguir pôr a Mata como estava ou, se possível, até melhor ainda”.

“Nas clareiras que ficaram vão ser, e temos até previsto no Plano de Atividades para 2019, plantadas 16 mil árvores, num total de 22 hectares”, António Gravato, presidente da Fundação Mata do Bussaco

Para a concretização da primeira fase da empreitada de reabilitação da Mata, Miguel Freitas recordou o investimento de 385 mil euros, feito a partir do Fundo Florestal Permanente, dando assim uma resposta pronta “para criar as condições necessárias e isso é, basicamente, o que cabe ao Governo fazer”, assumiu. Um investimento que o Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural afirmou ser possível “porque hoje existe, para a Mata do Bussaco uma visão diferente” e concretiza “uma visão intermunicipal, isto é, o Bussaco passou a ser não apenas um elemento do Município da Mealhada, mas um elemento que junta três municípios: o Município da Mealhada, de Penacova e o de Mortágua”. Nesta linha, Miguel Freitas garantiu à comunicação social que “o investimento vai prosseguir já no próximo ano”.

Sobre os projetos de investimento futuro para a Mata do Bussaco, Miguel Freitas refere “a Mata do Bussaco tem aqui elementos essenciais de preservação do seu valor natural, portanto é esse trabalho que nós temos que prosseguir” e acrescenta “não deixaremos que haja falta de verbas para fazer aquilo que é preciso nesta Mata”. “Temos que dar maior dignidade àquilo que é a entrada da Mata do Bussaco”, afirmando que “esse projeto também está em curso e, portanto, tudo aquilo que for necessário será feito no próximo ano”.

FMB quer vigilância para a Mata do Bussaco durante 24 horas

António Gravato esclareceu à comunicação social que, depois da constituição de quatro equipas de Sapadores Florestais, o próximo passo será a criação de um sistema de vigilância para a Mata, projeto que tal como Miguel Freitas referiu está submetido a concurso, “temos uma candidatura, que não está aprovada, mas que está bem classificada, para mudar o paradigma de funcionamento da Mata” ou seja “24 horas sob 24 horas de vigilância à Mata, com as portas controladas”. O presidente da FMB considera que “não faz sentido estarmos em controlo durante o dia, em monitorização das pessoas e de todo o conjunto edificado e florestal, para depois, durante a noite, a Mata ficar entregue a si mesma”. É então este projeto de vigilância que o Governo se propõe financiar, caso a candidatura não seja aceite, e que pretende garantir a segurança da Mata em duas dimensões: contra incêndios e contra atos de vandalismo ou furto.

Relativamente à proteção da Mata contra incêndios, Vítor Frias disse à imprensa, no âmbito de uma visita aos espaços intervencionados e na área exterior à Mata que ainda carece de trabalhos de limpeza, “o problema da Mata está fora dela”, sugerindo que para “salvar a Mata de um incêndio é necessário deixar uma faixa de 50 metros, fora dos muros (da Mata), só com morganheiras, alguns carvalhos e o resto é para limpar tudo”. Ainda sobre a visita guiada à Mata, o proprietário da Bioflorestal S.A. considera-a “realmente importante, para mostrar à pessoa responsável por isto como é que temos a floresta e como é que ela está fora dos muros, fatores que podem ditar o fim da Mata do Bussaco, porque se chegasse cá o fogo não entrava aqui ninguém”, sublinhando que “esta Mata tem tido sorte”.

Consciente da necessidade de precaver um incêndio na Mata, António Gravato entende ser fundamental “atacar a zona sul, oeste e norte” da floresta nacional, porém, e para 2019, a prioridade está na conclusão da reabilitação da Mata, nomeadamente dos 17 hectares que estão em falta. Sobre essa matéria ainda não há data prevista para abertura de um novo concurso público, sabe-se apenas que a intervenção decorrerá em “ilhas” espalhadas pela Mata, que “não estão consignadas numa ou noutra unidade de paisagem”, de acordo com as declarações prestadas pelo presidente da FMB. xa0