Diretor: 
João Pega
Periodicidade: 
Diária

“Escolhi o humor porque fui para o desemprego”


Categorias: Região quarta, 09 janeiro 2019

Filho. Marido. Pai. Humorista. São os quatro títulos que servem de base ao processo criativo do “Melhor do Pior” de António Raminhos. O humorista português chega à Mealhada no próximo dia 11 de janeiro e atuará em dose dupla no palco do Cineteatro Messias, às 21h30 e às 23h30. Antes de se abrir o pano para António Raminhos entrar em cena, o Jornal da Mealhada entrevistou o humorista numa missão 100% objetiva e descontraída…

Jornal da Mealhada – No programa de stand-up comedy “Sempre em Pé”, emitido pela RTP2, Luís Filipe Borges apresentou-te como jornalista de formação e fundador do grupo de humoristas portugueses “O Sindicato”. Escolheste o humor para te manifestares contra a atualidade noticiosa?

António Raminhos – (Gargalhada) Não, escolhi o humor porque fui para o desemprego. Aconteceu. O jornal onde trabalhava (A Capital) foi à falência e fomos todos para a rua. Comecei a ler e a ver muita comédia, a escrever umas coisas e arrisquei.

JM – Falar de António Raminhos é também falar de “5 para a Meia Noite”. Quando integraste o projeto, alguma vez achaste que seria a tua rampa para o sucesso?

AR - Não, até porque nunca penso num projeto como sendo a rampa para algo ou como algo que me vai levar a determinado lugar. Comigo as coisas sempre foram acontecendo naturalmente, tal como ainda vão. Meto-me nos projetos porque acho que podem ser giros ou porque são uma oportunidade de fazer coisas engraçadas, nunca a pensar que podem ser um hit. Quando acontece melhor. Entrei para o “5” com a perspetiva de estar a fazer aquilo de que gostava.

JM – Entre a televisão, o Youtube e a rádio, já tomaste banho na “Banheira das Vaidades”, no teu canal de Youtube, bebeste o “Café da Manhã”, na RFM, cumpriste a “Missão: 100% Português”, na RTP, e agora falas dos “Grandes Mistérios da Desumanidade”, na TSF. Gostas mais de aparecer ou de ser ouvido?

AR - É diferente. E difere também com os projetos. Mesmo na rádio são projetos diferentes, porque um era em direto, com os meus companheiros, e este são crónicas gravadas. Na TSF tiro mais gozo na escrita e depois a ouvir a sonoplastia, por exemplo. Fazer televisão depende sempre do momento ou do que estou a fazer. Onde me sinto mesmo sempre melhor é em palco, no stand-up. Apesar de ser sempre um stress do catano!

JM – A propósito da apresentação dos teus espetáculos em palco, escreveste no teu Instagram que padeces de uma grande enfermidade – não querer desiludir os outros. Quais são os sintomas? Sugeres que medicação?

AR – Sintomas? Sei! Um exagero na depreciação, sempre a questionar aquilo que faço, um medo horrível… Medicação? Legal? Nenhuma (Risos)! Agora a sério. No fundo é aprender, com o tempo, a gerir tudo e, sobretudo, a dar valor a quem gosta de nós e não aos outros.

JM – “As Marias” é o espetáculo que antecede ao “Melhor do Pior”. Nele as tuas filhas são as personagens centrais. De onde partiu a ideia de as tornar “atrizes”?

AR - Eu já engravidei a minha mulher a pensar no espetáculo! (Risos) Mentira! Claro que estou no gozo. Surgiu naturalmente, lá está. Tinha os vídeos, tinha piadas sobre o tema e pensei: como é que posso fazer algo em palco com isto? E surgiu “As Marias”.

JM – Destacas algum feedback positivo ou negativo d’ “As Marias”?

AR - Quem vai ver os espetáculos geralmente não tem um feedback negativo. Não é por eu ser muito bom, mas porque as pessoas já sabem o que esperar e tudo o que eu disser, mesmo que seja agressivo, as pessoas já vão a contar com isso.

JM - “O Melhor do Pior” é um espetáculo que está em palco desde o início de 2018. Que recetividade tens tido?

AR - Tem sido muito boa e a maior parte das pessoas diz que até gosta mais do que o das Marias, o que para mim é muito bom ouvir. É um espetáculo que pode apanhar algumas pessoas desprevenidas pela agressividade de alguns temas.

JM - Nesta peça falas do teu percurso no humor, da perda da tua mãe, da relação com a tua mulher e as tuas filhas. “O Melhor do Pior” pode ser considerada uma catarse?

AR - Já me perguntaram isso e até então nunca tinha pensado nisso. Mas deve ser, sim. Não foi feito com esse intuito. Foi uma catarse que foi acontecendo e que reuni neste espetáculo.

JM - A Mealhada recebe-te em dose dupla no próximo dia 11 de janeiro. Quais são as tuas promessas para o público nesses dois espetáculos?

AR - Vai ser uma viagem a dois... A dois, quer dizer, entre mim e cada uma das pessoas do público, que se pode rever em muitos temas ou simplesmente gozar o prato.

JM - Para 2019, já tens um novo espetáculo preparado?

AR - Não sei ainda muito bem para onde me virar (Risos) Lá está, nunca penso muito nas coisas. Talvez seja a solo, talvez volte a fazer uma peça com os meus amigos Marco Horácio e Luís Filipe Borges... Talvez televisão... Talvez nada!